RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Relatório Final Desaparecimento Forçado na Democ | Page 47

precisava ausentar-se era ele o responsável pelo irmão que o chamava de “Iba”. Seus três outros irmãos, Wallace, Thiago e Terso, também eram muito unidos. 100 Fábio, Thiago e Wallace estavam numa festa de São João no dia 09 de julho de 2003. Mas Fábio resolveu voltar antes para casa na companhia de dois amigos, Rodrigo Abílio 101 e Ana Carla. Em uma rua ainda próxima ao local da festa, foram abordados por alguns homens que os colocaram numa blazer preta. Pelo menos um dos suspeitos é um policial militar bastante conhecido na região de Queimados/RJ. Ana Carla quando viu a blazer se aproximar andou mais rápido e entrou em sua casa. Nenhum dos dois jovens jamais foi visto novamente. 102 Ilzidete Souza, mãe de Fábio, tinha pernoitado no hospital com uma irmã doente. Ao chegar em casa e não encontrar o filho, perguntou a um deles, Thiago, o que havia ocorrido. Ele disse que Fábio sairá da festa antes dele na companhia de Rodrigo e Ana Carla. Como o filho não costumava dormir fora, ela preocupou-se. Dirigiu-se primeiro a casa de Rodrigo, não os encontrando foi a casa de Ana Carla que narrou o acontecido. Começou ali uma luta de uma mãe incansável. Já foi ameaçada de morte, humilhada em delegacias, teve de conviver com o descaso do poder público. Nas primeiras tentativas de registro do desaparecimento, ela não foi atendida. Mesmo ela informando que a última vez que seu filho fora visto estava entrando no carro por ordem de conhecido policial militar da região, que ela nomeou para os policiais na ocasião. Ao que lhe responderam que ele (o tal policial) não saberia de nada e que ela estava ficando maluca. Ela, continua sua narração: Aí eu fiquei pra lá e pra cá, igual uma louca, indo em tudo quanto é lugar procurando e ninguém sabia. Aí vim aqui embaixo, fui na reportagem, fui a um jornal – acho que era o Última Hora que tinha ali no Grajaú – e eles me ajudaram muito com o sumiço dele. Fui na 55 (DP) de novo e o delegado falava que eu tinha que esperar que ele devia ter ido pra fora, que ele tinha ido pro Mato Grosso; aí eu disse: “ele foi fazer o que em Mato Grosso?”, “ah, ele deve ter ido com mulher pro Mato Grosso”. Aí daqui a pouco eu voltei e ele: “ahh dona, 100 Depoimento de Ilzidete Santos da Silva em 09 de outubro de 2018 no Laboratório de Estudos do Tempo Presente – IFCS/UFRJ, coordenado pela Profa. Maria Paula Araújo, tendo como entrevistadoras Maria Paula, Ivanilda Figueiredo, Simone Pinto, Barbara Fuentes, Thalita Maciel e com transcrição realizada por Simone Pinto 101 A família de Rodrigo nunca deu declarações públicas sobre o caso. Consideramos importante destacar que as mães que como Ilzidete resolvem falar publicamente a respeito dos desaparecimentos sofrem com ameaças a si e sua família. Portanto, é compreensível o porquê de alguns famílias se resguardarem em silêncio. 102 Registro de Ocorrência nº: 001539/0055/03. 47