RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 98
que outras ações dos governos municipal, estadual, da União e da
iniciativa privada entrem. É preciso incluir a Cidade de Deus no bairro de
Jacarepaguá [O Globo, 20/01/09].
As comunidades pacificadas nunca chegaram realmente a se transformar em bairros,
apesar das melhorias que algumas delas desfrutaram, como ocorreu na Zona Sul da
cidade. A entrada do poder público muitas vezes era marcada por ações agressivas,
especialmente as da Prefeitura, que costumava derrubar imóveis tão logo a polícia saía,
em diversas favelas pacificadas. No morro da Mangueira, por exemplo, as barraquinhas
de alimentação situadas no entorno da quadra da escola de samba foram destruídas pelo
Choque de Ordem sem ao menos os proprietários serem avisados. Delegado, mestre-
sala da escola há 40 anos, sintetiza o ocorrido da seguinte forma:
Todo mundo ficou contrariado com a destruição das barraquinhas. É uma
tradição na Mangueira, antes ou depois dos ensaios, parar para comer
salgadinhos ou simplesmente beber nas barracas. Elas estão lá há anos e
dão trabalho a muitos moradores daqui [Globo, 20/06/11].
De fato, tanto o processo de ocupação em si quanto seus desdobramentos aconteciam de
maneira totalmente apartada dos moradores. A participação da comunidade não era
levada em consideração no projeto, o que contribuiu para inviabilizar um policiamento
comunitário. As arbitrariedades da polícia, que incluíam toques de recolher, proibição
de bailes funks e interferências até mesmo em festas particulares, foram adquirindo, aos
poucos, caráter mais violento, com xingamentos, agressões e mesmo assassinatos. No