RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 97

Trinta anos antes de a última UPP ser instalada, um dos problemas que o projeto viria a enfrentar a partir de então seria antecipado na experiência do coronel Édson Gomes Moreira, em outubro de 1984, no morro do Rebu. Comandante do 14º BPM, o coronel Édson assumiu o policiamento comunitário na região a pedido do coronel Nazareth Cerqueira, então Secretário de Polícia Militar da primeira administração Brizola. Uma das missões que lhe foi dada por Cerqueira era a de acabar com as bocas-de-fumo de Silvio Maldição, à época considerado o maior traficante de maconha do estado. O coronel Édson passou a frequentar a comunidade à paisana, conversando com os moradores, e notou que Silvio era tomado em grande conta entre os residentes da favela do Rebu. O traficante, segundo relatos dos moradores, tinha ímpeto assistencialista, e provia a comunidade com algumas pequenas benfeitorias. Segundo reportagem: Na favela do Rebu, de 85 mil moradores, no subúrbio de Senador Camará, inexiste qualquer órgão público. Tudo é resolvido por um homem de 40 anos – Sílvio Carvalho – o Silvio Maldição – que financia pequenas obras de saneamento e distribui à comunidade remédios, roupas, eletrodomésticos e brinquedos. Cumpre, também, os papéis de chefe policial e juiz, intervindo quando há conflitos de interesses. Nada disso, porém, seria de espantar, se Silvio não fosse o maior traficante de maconha da Zona Oeste do município do Rio, segundo a polícia [JB, 22/10/84]. O coronel Édson chegou a ser hostilizado pelos garotos, com quem antes ele conversava, ao aparecer fardado, pela primeira vez, comandando uma operação contra o criminoso. Posteriormente, em uma de suas visitas ao Rebu, um morador lhe fez uma pergunta peculiar: – Comandante, o senhor só tem segurança pra nos dar? Uma das virtudes do Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame foi sua insistência, desde os primeiros momentos da UPP enquanto projeto de governo, na necessidade de uma “ocupação social” das comunidades pacificadas, integrando-as aos bairros dos quais faziam parte. Em janeiro de 2009, por ocasião da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus, a segunda a favela a receber o projeto, o então Secretário declarou: A questão que temos aqui não é só segurança pública. É uma comunidade que está abandonada, com lixo e córrego precisando de dragagem. É preciso um projeto habitacional. Feita a ambiência de segurança, espero