RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 95

cidade, e onde alguns conflitos aconteceram, é possível afirmar que a instalação das UPPs foi um processo relativamente pacífico. Essa característica das ocupações, que só pode ser encarada sob a perspectiva do êxito, abre, no entanto, questões intrigantes. Uma, em especial, é de importância fundamental. Por que as operações policiais anteriores às UPPs eram tão violentas? Afinal, tratava-se da mesma polícia, dos mesmos territórios, contra os mesmos oponentes, com o mesmo poderio armado. Não seria razoável supor que uma investida de cunho definitivo, como era o plano traçado das Unidades de Polícia Pacificadora, suscitasse respostas ainda mais violentas dos traficantes que, até então, supostamente ofereciam resistência tão voraz a incursões passageiras? Apenas duas alternativas se colocam diante dessas questões. Ou a explicação se encontra nas facções ou na polícia. No primeiro caso, seria possível que os traficantes simplesmente tivessem desistido, sem opor resistência, dos seus enclaves, mas não provável. No segundo caso, a explicação residiria na hipótese de que as ocupações das UPPs transcorreram sem dar aos policiais a possibilidade de transformá- las em um negócio e, sem arrego presente ou futuro em vista, os criminosos sabiam que não poderiam permanecer no local. Em todo caso, o projeto de expansão das UPPs, nesse aspecto, demonstrou que é possível operar dentro das comunidades sem recurso ao tipo de violência de guerrilha a que o Rio de Janeiro se acostumou por décadas a fio. Inclusive, e, sobretudo, como se deu nos dois primeiros anos do governo Sérgio Cabral. Embora a hipótese de impossibilidade de arrego seja plausível para explicar a relativa paz com que a instalação das UPPS se deu, ela só é viável se entendida no sentido da propina ou arrego visando a continuidade das operações naquele território. Porque se a permanência estava interditada, a saída dos traficantes, seus armamentos e produtos mostravam-se permeáveis à negociação. E em algumas ocasiões esse modus operandi veio a público. No dia seis de fevereiro de 2011, a ocupação do complexo de São Carlos, onde a polícia sempre se envolveu em confrontos violentos, foi assim descrita em uma reportagem do jornal O Globo: Sem troca de tiros, sem feridos e sem violência. Foi desta forma, numa ação integrada com as Forças Armadas, que as polícias ocuparam em menos de duas horas, nove favelas no Complexo de São Carlos, em Santa Teresa. A operação precede a instalação de três Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que irão beneficiar diretamente 20 mil moradores da região e, indiretamente, 500 mil pessoas que transitam nos 17 bairros próximos a esses morros, que ficam entre o Centro, a Zona Norte e a Zona Sul. Ao todo, 846 homens participaram da ocupação: 380 PMs, 189