RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 84
Os dois primeiros meses do governo Cabral foram os mais violentos da última década
no que tange à letalidade policial, com 207 pessoas mortas em supostos confrontos. Até
o final do ano mais 1.123 pessoas seriam assassinadas por policiais, totalizando 1.330.
Nesse primeiro ano, para cada pessoa morta sete foram presas. Em 2000, a relação era
de um para cinquenta e seis – uma queda de 87%. Os dados foram apresentados em
uma pesquisa do Núcleo de Informações em Segurança e Violência do Instituto Pereira
Passos em 2008. Segundo a coordenadora da pesquisa, Ana Paula Miranda:
A prisão em flagrante está sendo abandonada, deixando de ser a função
precípua da polícia, que opta pela execução [O Globo, 27/06/08].
O enfrentamento apregoado pelo governador Sérgio Cabral surtia efeitos visíveis nas
favelas do estado, as quais eram obrigadas a conviver com óbitos diários. Dois casos
chamam atenção nesse universo de ações letais da polícia nas comunidades. Em
conjunto, a invasão da Mineira e a guerra no Alemão ajudam a compreender as
dinâmicas mais gerais que nortearam a defesa da ordem no Rio de Janeiro no primeiro
ano de Cabral.
Na madrugada de 17 de abril, um grupo de trinta homens pertencentes a uma facção
criminosa invadiu o Morro da Mineira no intuito de tomar a favela dos rivais. Durante
horas os moradores se viram aterrorizados pela intensa troca de tiros entre os traficantes,
que resultou na morte de dez pessoas. Pela manhã, a polícia chega ao local, entra em
confronto com os traficantes e sua ação tem como saldo a morte de mais três pessoas.
Seis traficantes foram presos, inclusive o chefe do ataque à Mineira. No dia seguinte ao
episódio, vem a público, por meio do Chefe do Estado-Maior da PM, o coronel Samuel
Dionísio, que o Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública tinha
conhecimento da invasão. Segundo noticiado:
A polícia tinha informações de que traficantes tentariam invadir o Morro
da Mineira, mas não ocupou a favela com antecedência porque as
informações poderiam não ser verdadeiras [O Globo, 18/04/07].
Além de permitir a invasão da comunidade, e deixá-la à mercê dos traficantes durante
mais de três horas até chegar ao local, o criminoso que chefiou a invasão do Morro da
Mineira e havia sido preso pela polícia foi liberado depois de dar entrada na delegacia.
O tenente Jorge Eduardo Prates da Silva do 1º BPM e mais sete outros policiais