RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 65
mais tradicional escola de formação dos oficiais da corporação. Seis fitas de vídeo
contendo provas contra instrutores foram apresentadas à Procuradora, e em março, à
CPI da Impunidade de Servidores Públicos da ALERJ. Em uma dessas fitas a tenente
Nádia Luana Cardoso ensina aos jovens em formação como forjar um auto de
resistência. Na gravação, a tenente Nádia admitia ter colocado uma arma na mão de um
homem que foi morto durante um tiroteio em uma operação da PM. O tenente-coronel
Sérgio Saraiva resolveu procurar a representante do Ministério Público depois de
inúmeras tentativas de comunicar o fato ao comandante da Polícia Militar, Wilton
Ribeiro, que se recusou a ouví-lo. Por conta desse episódio, o tenente-coronel Sérgio foi
afastado do seu cargo, recebeu uma apreensão e foi punido com cinco dias de prisão
administrativa [O Globo, 20/03/2002].
No mês de abril o Rio de Janeiro registrou a marca de um assassinato por hora [O
Globo, 14/04/2002].
Com as sucessivas derrotas enfrentadas pelo governo, algumas delas frutos das decisões
do próprio governador, a polícia volta a matar como antes. Depois de ter conseguido
uma redução de 40% nos autos de resistência após o primeiro ano de mandato, Anthony
Garotinho precisou lidar com a volta das chacinas e execuções sumárias na Baixada
Fluminense a figurarem entre as principais causas de homicídios na região. Entretanto,
às velhas motivações para os assassinatos cometidos por policiais e demais agentes de
Estado no Rio de Janeiro – como extorsão, vingança ou limpeza social – se somaram as
chacinas e execuções motivadas pelo controle de serviços e territórios, por parte de
policiais, em toda a região metropolitana. O número crescente de mortes ligadas à
prestação de segurança privada, mercado que, ao final do mandato Marcelo Alencar,
movimentava um montante 60% maior que todo o orçamento da segurança pública no
estado, tinha relação direta com o envolvimento de mais de trinta mil policiais nessa
atividade – como denunciado pelo jornal O Globo em 20 de maio de 2002. No dia 22 de
maio, conforme noticiado pelo mesmo periódico, o Secretário de Segurança Pública,
Josias Quintal, ignora o problema da segurança privada no estado, sob o domínio de
inúmeras facções policiais, e libera o segundo emprego para os agentes da segurança
pública, o chamado “bico”.