RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 54

costumam dar preferência ao chamado “bicho solto” – um policial destemido, muitas vezes, ligados a grupos de extermínio. Trabalhando numa espécie de cartel, os chefes da segurança loteiam as áreas de atuação em toda a Baixada Fluminense. Eles também dividem espaço de acordo com o ramo de atividade das empresas – as mais visadas pelos delegados e oficiais são as transportadoras e os motéis instalados ao longo da Rodovia Presidente Dutra. Pedindo para não ter sua identidade revelada, um policial que mora há 30 anos na Baixada Fluminense disse que dois delegados e um coronel da PM detêm a maior fatia desse lucrativo negócio. Um dos delegados trabalhou há pouco tempo na 64ª DP [Vilar dos Teles] e o outro é conhecido por sua amizade com o bicheiro Aniz Abraão David, o Anísio da Beija-Flor. O coronel, que hoje trabalha na capital, já teria servido no 20º BPM [Mesquita] [O Globo, 03/03/97]. Na Zona Oeste, grupos de matadores compostos por policiais e ex-policiais civis e militares, além de outros agentes públicos, passaram a oferecer serviços de segurança privada a estabelecimentos comerciais. No dia 13 de novembro de 1997, o major da Polícia Militar, Darcy de Oliveira Pereira Neto, do 21º BPM, foi preso acusado de chefiar um grupo de extermínio mascarado de empresa de segurança. O grupo contava com cerca de dez homens, que faziam segurança de festas e clubes, além de prestarem serviços também para um conjunto habitacional conhecido como Conjunto Campinho, na Estrada do Campinho, em Campo Grande. O grupo era conhecido como Anjos da Guarda e, conforme noticiado no jornal O Globo, o major foi descoberto quando um dos seus “seguranças” foi preso portando uma arma e denunciou a ação do grupo de extermínio [O Globo, 15/11/97]. A prisão aconteceu depois que o grupo foi denunciado pelo segurança José Álvaro Fernandes de Siqueira, de 27 anos. Ele foi detido em Sepetiba no dia 12 passado por PMs, quando carregava uma pistola calibre 7.65 e 20 balas. José tinha uma carteira da empresa de segurança Rac-Dog. Um documento dizia “o portador desta carteira atua no cargo de segurança pessoal e privada ou coletiva e está sob inteira responsabilidade do major Pereira Neto (tel: 395-0031)”. À época, os serviços de segurança privada movimentavam 60% a mais do valor de todo o orçamento da segurança pública no estado [O Globo, 06/07/97]. Era o começo das milícias no Rio de Janeiro.