RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 111

de Janeiro para implementação de um plano de segurança que sequer foi debatido publicamente. Pouco mais de um ano antes, em primeiro de janeiro de 2017, Marielle Franco, 38 anos, negra, mãe, nascida e criada na favela da Maré, socióloga, mestre em Administração Pública, assumiu pela primeira e única vez o cargo de vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Foi eleita com 46.502 votos pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), tornando-se a quinta vereadora mais votada da cidade e a segunda mais votada para o cargo no país. Embora este fosse seu primeiro mandato eletivo, Marielle Franco era engajada politicamente há mais de vinte anos. De acordo com a biografia encontrada em seu site oficial, sua militância em direitos humanos se iniciou após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré. Tornou-se mãe ainda muito jovem, aos 19 anos, o que a levou a contribuir com os direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas desde então. Antes de assumir o mandato na Câmara, trabalhou em fundações como Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm), além de coordenar, por mais de dez anos, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ao lado do então Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL). A breve atuação de seu mandato foi bastante coerente com a trajetória de vida e militância da então vereadora, defendendo os direitos humanos de mulheres e jovens negros, de moradores de favelas do Rio de Janeiro, de pessoas LGBTI. Além disso, também denunciava as execuções extrajudiciais e outras violações de direitos cometidas por policiais e agentes do estado. Não por acaso, foi escolhida Presidente da Comissão da Mulher na Câmara dos Vereadores e relatora da Comissão Representativa da Câmara de Vereadores, criada para monitorar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. A intervenção federal não tinha completado nem um mês quando Marielle Franco foi brutalmente executada. No dia 14 de março de 2018, o carro que a transportava foi alvejado com treze tiros no bairro do Estácio, região movimentada do centro da cidade. Três tiros a atingiram na cabeça e outro no pescoço. Outros três atingiram o motorista Anderson Pedro Gomes, de 39 anos, também assassinado naquele dia. Uma assessora de Marielle também estava no carro, mas sobreviveu. A execução bárbara aconteceu por volta da 21h30, quando Marielle voltava de um evento na Lapa, transmitido ao vivo