RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 80

apresentavam ao Rio de Janeiro como a faceta organizada dos mercados clandestinos de bens e serviços controlados por policiais desde que perderam as regalias do jogo do bicho, em meados dos anos 80. Isso não quer dizer que assassinato por encomenda, contrabando, roubo, prostituição, jogo, extorsão, segurança particular, entre outras inúmeras fontes de renda extra dos policiais civis e militares no estado, só passaram a ser praticados depois que a propina do jogo do bicho foi perdida. O que a pesquisa aponta é que essas práticas, antes diluídas, passaram por um crescente grau de racionalização ao longo do período democrático e foram reapropriadas no início dos anos dois mil como um mercado organizado, dividido em áreas específicas, com hierarquia definida e pretensão de inserção no aparelho do Estado. Na madrugada da última sexta-feira, cinco homens armados invadiram um bar na localidade de Agulhas Negras, em Campo Grande, Zona Oeste, para mais um confronto armado entre grupos que disputam as linhas de transporte alternativo da região. Três pessoas morreram e duas ficaram feridas. Foi apenas mais um caso na guerra dos grupos de extermínio que, desde 2000, já vitimou mais de cinco mil pessoas na região. A disputa pelo controle da segurança privada, do transporte clandestino e das máquinas de caça-níqueis vem multiplicando a existência dessas quadrilhas, que hoje representam 88,36% das denúncias sobre atuação de grupos de extermínio em todo estado. Das 997 denúncias encaminhadas pelo Disque-Denúncia à Secretaria de Segurança no ano passado, 881 foram sobre grupos que atua, na Zona Oeste, principalmente em bairros como Campo Grande, Santa Cruz e Jacarepaguá. O crescimento dessas quadrilhas pode ajudar a explicar por que em 2004, quando o número de homicídios caiu em todas as regiões do estado, na Zona Oeste esse tipo de crime teve aumento de 10,4% [O Globo, 26/04/05]. Em 2005 as milícias ocupavam 16 comunidades. Apesar dos dados apresentados pelo Disque-Denúncia, as milícias foram bem recebidas quando vieram a público. Os grupos paramilitares foram abordados pela mídia e mesmo por autoridades públicas como solução inovadora contra o domínio das facções criminosas que comercializam drogas no Rio de Janeiro. Em uma matéria intitulada “Cidade de Deus na mira dos milicianos”, publicada no jornal O Globo em 20/03/05: A cidade de Deus é o próximo alvo dos grupos formados por policiais militares para tirar o tráfico das favelas. (...) O diretor executivo da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá [ACIJA], Augusto Torres, é um dos que confirmam que a Cidade de Deus é o próximo passo para retomada das áreas conflagradas: