RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 47
uma colagem com notícias de jornal dentre as quais se destacava uma entrevista do
Secretário de Segurança Pública com a manchete “General admite derrota da polícia”.
O segundo cartaz trazia um recado escrito à mão: “éramos matadores de policiais,
ladrões de carro, estrupadores (sic) de meninas” [O Globo, 28/04/95].
Desde que Marcelo Alencar assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro a polícia
passou a agir de maneira descontrolada e parecia não ter mais pudores em esconder sua
truculência. Um dos episódios mais marcantes e representativos da gestão de Marcelo
Alencar foi a execução de Cristiano Moura Mesquita, de 20 anos, pelo cabo da polícia
militar Flávio Ferreira Carneiro em março de 1995. O cabo participava de uma blitz
em frente ao shopping Rio Sul, no bairro de Botafogo, quando Cristiano e outros dois
homens assaltaram uma drogaria no interior do estabelecimento. Um dos assaltantes
fugiu, o outro foi morto e Cristiano havia sido detido e imobilizado. Na frente de
dezenas de pessoas, incluindo um cinegrafista da Rede Globo, um policial arrastou o
assaltante para trás de uma Kombi, quando então se ouviram gritos de “quebra, quebra”
e logo em seguida disparos de arma de fogo. Flávio o executou. Ao sair de trás do
automóvel brandia um revólver, que alegava ser do rapaz, e justificou sua ação como
legítima defesa. O Comandante Geral da PM, coronel Dorasil Corval, se manifestou
sobre o caso:
Os noticiários só mostram violência e o ato do policial é fruto disso aí.
Será que a liberdade de imprensa deve ser tão ampla assim? [Jornal do
Brasil, 07/04/96]
Marcelo Alencar se manifestou publicamente contra o que considerou um “excesso” do
policial. Após ter assistido as imagens da execução pública, divulgou uma nota de
repúdio onde informou que a morte seria apurada rigorosamente. O governador também
fez questão de frisar que o crime foi um fato isolado, “que deve ser compreendido
dentro da situação-limite que define o combate duro e direto entre policiais e
criminosos” [O Globo, 06/03/95]. Três anos antes de executar o assaltante em frente ao
Rio Sul, o relatório de um Inquérito Policial Militar instaurado em 1992 apontava o
cabo como autor da execução do comerciante Eurípedes Silva, assassinado à queima-
roupa, pelas costas, com tiros de metralhadora.