RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 43
podem nos assassinar porque sabem que ficarão impunes [O Globo,
15/09/92].
A Polícia Civil, de inspetores a delegados, também se mostrava profundamente
descontente com a administração Brizola, mas em especial com o vice-governador Nilo
Batista. As razões eram variadas. Desde sua nomeação, em caráter inicialmente interino,
os policiais civis entraram em atrito com o governo, considerando um desrespeito e uma
interferência a chefia vinda de fora da corporação. Em 1987, seis meses depois da saída
de Nilo, o advogado Hélio Saboya, nomeado por Moreira como novo Chefe da Polícia
Civil, foi desafiado publicamente com vinte assassinatos no primeiro dia de trabalho.
Entre os corpos achados pelos bairros do Grande Rio, o de dois jovens, com braços e
pernas amarrados, mortos por estrangulamento, exibiam um cartaz onde havia um
recado escrito a mão para o Secretário: “Viva o grande Saboia (sic). Vamos combater o
crime”. Esse, parece, foi um marco da audácia e disposição dos policiais no que tange
ao enfrentamento de sua própria cúpula. Nilo também incomodava com suas propostas
de renovação por meio do controle dos policiais e da transparência nas investigações. A
criação da Divisão de Defesa da Vida, o novo Registro de Ocorrência, e, sobretudo, pela
instituição do Boletim de Missão Policial – um documento que deveria ser preenchido
pelos inspetores antes de saírem para uma ação. Nilo também proibiu que a imprensa
fotografasse os suspeitos presos no interior das delegacias, o que, surpreendentemente
causou grande revolta. No enterro de um detetive, com apenas quinze dias de governo, o
então deputado estadual e ex-detetive da Polícia Civil, José Guilherme Godinho, o
Sivuca, acusou o governo de proteger os criminosos ao proibir que fossem fotografados
nas delegacias.
Diante das 400 pessoas presentes no Cemitério do Caju, Sivuca fez um
apelo público ao Governador Brizola, para que tenha pelo policial o
mesmo carinho que tem pelos bandidos. “Não se deixem morrer. Matar
sim, se for preciso. Esse gesto do Secretário é pura demagogia” [O
Globo, 30/03/91].
As sucessivas crises na política de segurança costumavam ser incensadas pela
Associação dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro [ADEPOL], que passou a se
comunicar diretamente com a sociedade fluminense publicando notas oficias nos jornais
de grande circulação culpando o governador Leonel Brizola e seu vice, Nilo Batista,
pela situação de caos e violência no estado.