Pés no Chão Pés no Chão | Page 75

aconteceu por aqui A última conversa por Ana Carolina da Silva C omo de costume, às 6h30 de sexta-feira, ele saiu de casa, na Rua Dalmira Souza Lunardon, em direção ao telefone público que ficava uns 15 minutos do local. Essa era a única forma de comunicação daquela época. Durante à noite choveu muito e o dia amanheceu nublado, prestes a chover novamente. Ele chegou no bairro São Dimas há alguns meses, cerca de seis. Aparentava ter 60 anos, era um pouco alto, os cabelos quase todos brancos e andava sempre com um chapéu. Vendo-o todo dia indo até o orelhão, decidi segui-lo, por curiosidade em saber quem era a pessoa com quem ele conversava toda manhã. Naquele dia estava chovendo, o caminho até o telefone ficou mais difícil, já que a rua era de “chão”, estava cheia de barro e com muitas muitas poças de água. No meio da conversa, consegui escutar um “eu te amo”. Com certeza era alguém importante. Saiu do telefone caminhando devagar, depois de uns passos escutei alguns suspiros. Ele estava chorando. Por quê? Não se sabe. Saudade? Ou talvez alegria? A vida daquele senhor sempre foi um suspense, nunca se soube muito sobre ele, nem sequer seu nome. A pessoa 75