aconteceu por aqui
A última conversa
por Ana Carolina da Silva
C
omo de costume, às 6h30 de sexta-feira, ele saiu
de casa, na Rua Dalmira Souza Lunardon, em
direção ao telefone público que ficava uns 15 minutos do
local. Essa era a única forma de comunicação daquela época.
Durante à noite choveu muito e o dia amanheceu
nublado, prestes a chover novamente. Ele chegou no bairro
São Dimas há alguns meses, cerca de seis. Aparentava ter
60 anos, era um pouco alto, os cabelos quase todos brancos
e andava sempre com um chapéu.
Vendo-o todo dia indo até o orelhão, decidi segui-lo,
por curiosidade em saber quem era a pessoa com quem ele
conversava toda manhã. Naquele dia estava chovendo, o
caminho até o telefone ficou mais difícil, já que a rua era
de “chão”, estava cheia de barro e com muitas muitas poças
de água.
No meio da conversa, consegui escutar um “eu te
amo”. Com certeza era alguém importante. Saiu do telefone
caminhando devagar, depois de uns passos escutei alguns
suspiros. Ele estava chorando. Por quê? Não se sabe.
Saudade? Ou talvez alegria?
A vida daquele senhor sempre foi um suspense, nunca
se soube muito sobre ele, nem sequer seu nome. A pessoa
75