Projeto Educativo - versão final | Page 29

Projeto Educativo Agrupamento de Escolas da Madalena
25 em dar resposta a esta crise multipolar que varre o planeta um pouco por todo o lado , nela se incluindo a necessidade profunda de alterarmos os atuais padrões de consumo , muito assentes no imediatismo e no crescimento insaciável .
Volvido um período de euforia e de crença acrítica nas virtudes do “ progresso ” e do crescimento ( não raras vezes obtido a qualquer preço …), é , com efeito , chegado o momento de , sem constrangimentos de qualquer natureza , refletir e questionar a “ qualidade ” de tais conceitos e ( porque não ?) a própria sustentabilidade do modelo de desenvolvimento que lhes tem estado subjacente , consciencializando-nos de que se impõe viver melhor com menos , como preconizam os adeptos da simplicidade voluntária . Já não restarão grandes dúvidas de que não é possível continuarmos a viver como temos vivido até aqui : sem medidas corretoras de consumo , em que o uso e abuso dos recursos naturais , alguns deles escassos , tem sido uma constante ; sem controlo real da contaminação que vamos provocando aos mais diversos níveis , ignorando a capacidade de suporte dos ecossistemas ; acentuando as assimetrias sociais , ao invés de as esbatermos ; em definitivo , sem políticas equitativas , orientadas para um desenvolvimento mais harmonioso e solidário .
É certo que , apesar de todos os sinais , há quem ainda continue , teimosamente , a argumentar que a história humana tem sido feita de crises e que esta não passa , como tal , de “ apenas ” mais uma a juntar a todas as outras que ocorreram até aqui . Só que , desta vez ( e é absolutamente indispensável termos consciência disso ), ao invés das anteriores , muito mais circunscritas | localizadas no espaço e no tempo , estamos perante uma crise de proporções globais que ameaça pôr em risco o equilíbrio global e , por via disso , a nossa própria sobrevivência , o que , por si só 10 , se outras motivações não existissem 11 , impõe a necessidade urgente de encontrarmos uma saída .
Se a Educação para a Cidadania Global , come se lhe reconhece , contribui para termos cidadãos mais informados e conscientes acerca dos problemas concretos da atualidade , certamente que contribuirá também para o estabelecimento de novos paradigmas civilizacionais , que coloquem no centro das suas preocupações a pessoa humana nas suas múltiplas dimensões , na linha do que foi a matriz do nosso anterior Projeto Educativo , já que se nada for , entretanto , feito , poderá ser curto o tempo que nos separa do momento irreversível , daquele instante de no return , a partir do qual , como refere Soromenho-Marques 12 , nenhuma vontade coletiva poderá já alterar o curso suicidiário da civilização contemporânea . Essa é a incómoda interrogação e incerteza
10 A pedagogia da tragédia tem sido a grande impulsionadora dos passos , mesmo que tímidos , que a comunidade internacional tem vindo a dar
em matéria de política de ambiente , o que significa que estamos numa fase em que ainda agimos por reação ( numa postura claramente defensiva ), e não tanto por convicção , como seria desejável . Em termos civilizacionais , este é , porventura , o grande desafio que se coloca à humanidade : passar a encarar a política global de ambiente numa ótica preventiva ( para não deixar degradar o que ainda não foi intervencionado pelo Homem ) e reconstrutiva ( para tentar “ recuperar ” aquilo que foi sendo delapidado ), em suma , numa ótica civilizacional . 11 Em resposta aos problemas ecológicos , uma série de autores , sobretudo norte-americanos , desenvolveram teorias de ação que rompem com a
tradição que concede ao humano a exclusividade da condição de sujeito ( moral ) e retém nas fronteiras da humanidade a esfera do agir ético . Propõem , no âmbito da designada “ ética ambiental ”, novos valores e uma nova conceção de moral que visa conformar a ação humana a uma relação mais equilibrada entre homens , demais seres vivos e sistemas naturais , 12 Soromenho-Marques , Viriato , Regressar à Terra , Consciência Ecológica e Política de Ambiente , Fim de Século , 1994 ( p . 14 ).
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