Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 33

si mesma. Mantivera-se viva quando não tinha mo- tivos para viver. Se a doença deixasse aquelas crian- ças em paz, ela conseguiria mantê-las vivas. De algum modo, ela ergueu a mulher morta nos bra- ços e a colocou no banco traseiro do carro. As crianças começaram a chorar, mas ela ajoelhou-se na calçada destruída e sussurrou para elas, temendo assustá-las com a aspereza de sua voz há tanto tempo sem uso. — Está tudo bem — disse a elas. — Vocês também vão conosco. Vamos. — Ela ergueu as duas crianças, uma em cada braço. Eram tão leves. Será que esta- vam recebendo comida suficiente? O menino tapou a boca dela com a mão, mas ela virou o rosto. — Está tudo bem eu falar — disse a ele. — Desde que não tenha ninguém por perto, está tudo bem. — Ela colocou o menino no assento da frente e, sem que lhe fosse pedido, ele abriu espaço para a menina. Quando os dois estavam no carro, Rye se encostou na janela, olhando para eles, percebendo que agora estavam menos assustados, que ao menos a observa- vam com curiosidade, tanto quanto medo. — Sou Valerie Rye — ela disse, saboreando as pa- lavras. — Está tudo bem, vocês podem falar comigo. 28