Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 12

tos do motorista, observou-o gritar com uma raiva sem palavras. Imóvel, o homem de barba não soltou qualquer som, recusando-se a reagir aos gestos nitidamente obscenos. Era o que as pessoas menos debilitadas costumavam fazer: a menos que fossem fisicamente ameaçadas, recuavam e deixavam quem tinha me- nos controle gritar e pular. Era como se sentissem que se rebaixavam ao ser tão irritáveis quanto os menos compreensivos. Era uma postura de superio- ridade e era assim que pessoas como o motorista a interpretavam. Essa “superioridade” era muitas ve- zes punida com espancamentos e até com a morte. A própria Rye já escapara por pouco de incidentes assim. Em consequência, nunca saía desarmada. E nesse mundo em que a única linguagem comum provável era a corporal, estar armada quase sempre bastava. Ela raramente precisara sacar sua arma ou mesmo mostrá-la. O revólver do homem de barba estava perma- nentemente à mostra. Ao que tudo indicava, fora o bastante para o motorista do ônibus. Ele cuspiu com repulsa, lançou um olhar furioso para o homem de barba por um instante e depois caminhou de volta para o ônibus tomado pelo gás. Fixou os olhos no 7