Projeto Cápsula Dentro do Bosque | Ryūnosuke Akutagawa | Page 22

novamente para mim e gritou: “Mate-o! Mate-o! Eu não posso ficar com você enquanto ele viver!”. De novo e de novo ela gritava, como se tivesse perdido a cabeça, “Mate-o!”. Mesmo agora, suas pa- lavras ameaçam me relegar a abismos profundos em um turbilhão. Será que palavras mais odiosas já foram proferidas por lábios humanos antes? Será que palavras assim perversas e condenáveis já che- garam a ouvidos humanos? Será que… (Uma explo- são de gargalhadas irônicas.) Até mesmo o bandido ficou pálido quando lhe ou- viu. Ela agarrou o braço dele e gritou novamente: “Mate-o!”. O bandido a encarava, sem concordar ou negar seu pedido. Antes que eu percebesse, contu- do, ele fez minha mulher tombar sobre as folhas de bambu com um único chute. (Outra explosão de gar- galhas irônicas.) O bandido calmamente cruzou os braços e olhou para mim. “O que quer que eu faça com ela?”, ele pergun- tou. “Mate-a ou deixe que parta? Só acene com a ca- beça. Mato?” Por isso, e por nada mais, estou disposto a perdoar o bandido por seus crimes. (Mais um longo silêncio.) Quando hesitei em dar minha resposta, minha mulher deixou escapar um berro e se lançou nas 17/19