Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 7
Meu marido me batia. Foi assim que, naquela noite,
fui parar lá nos fundos da nossa casa, pouco depois
dos arbustos, atravessando o mato alto, em frente
ao oleoduto. Nossa casinha era a última da aldeia,
já praticamente dentro da floresta. Então, ninguém
nunca viu nem ouviu ele batendo em mim.
Ir para lá era a melhor maneira de criar um es-
paço entre ele e eu, sem lançá-lo em um uma fúria
ainda maior. Quando eu ia para os fundos da casa,
ele sabia onde eu estava e sabia que estava sozinha.
Mas ele era muito cheio de si para perceber que eu
estava pensando em me matar.
Meu marido era um bêbado, como muitos dos
membros do Movimento Popular do Delta do Níger.
Era assim que todos eles controlavam a raiva e a
sensação de impotência. O peixe, os camarões e o la-
gostim da enseada estavam morrendo. Beber aquela
água murchava o útero das mulheres e em algum
ponto levava os homens a urinarem sangue.
Eu ia buscar água num riacho. Uma estação de
distribuição fora construída nos arredores e agora o
riacho estava raso e imundo, com uma camada oleo-
sa que refletia os arco-íris. A cada ano os sítios de
mandioca e inhame produziam menos. O ar deixava
nossa pele suja e cheirava a algo que estava se prepa-
2/29