Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 22
do no alto das palmeiras e árvores do mangue. Eu po-
dia sentir o cheiro do óleo quente em que alguém da
vizinhança fritava banana-da-terra ou inhame.
Meus olhos se fixavam no que a Zumbi tinha fei-
to. Eu sorria. Sorria e sorria.
— O que é isso? — sussurrei.
Ela ergueu o objeto com duas de suas pernas
dianteiras e bateu uma perna traseira duas vezes no
chão, como parecia fazer sempre que estava tentan-
do dizer alguma coisa. Alguma coisa que eu normal-
mente não entendia.
Ela trouxe três pernas para a frente e começou a
tocar o que, no início, era uma mistura de minhas
canções favoritas, de Bob Marley a Sunny Ade e
Carlos Santana. Então, a música se intensificou em
algo tão complexo e belo que fui tomada pelas lá-
grimas de alegria, admiração, êxtase. As pessoas
devem ter ouvido a música, talvez tenham olhado
pelas janelas e aberto as portas. Mas nós estávamos
escondidas na escuridão, no mato, nas árvores. Eu
gritei e gritei. Não sei por que, mas gritei. E me per-
gunto se ela ficou satisfeita com minha reação. Acho
que ficou.
Passei a hora seguinte aprendendo a tocar sua
melodia.
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