Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 20

Quando ela chegou, estalando pelo oleoduto, meu coração se alegrou. Esta noite, seus olhos azuis e líquidos brilhavam muito. Tinha uma mulher de quem comprei uma vez uma fazenda de tecido azul. O tecido era de um azul intenso que me lembrava o mar aberto nos dias ensolarados. A mulher disse que o tecido era “azure”. Esta noite, os olhos da minha Zumbi eram de um azure profundo. Ela parou, bem na minha frente. Esperando. Eu sabia que era a minha Zumbi porque, um mês antes, ela permitiu que eu colocasse um adesivo com uma borboleta azul em uma de suas pernas da frente. — Boa noite — eu disse. Ela não se mexeu. — Estou triste hoje — eu disse. Ela saiu do duto, com suas pernas metálicas ti- lintando contra o metal e depois murmurando pela lama e pela relva. Assentou seu corpo no chão, como sempre fazia. Então, esperou. Dedilhei alguns acordes e depois toquei sua mú- sica favorita, “No woman no cry”, do Bob Marley. Enquanto eu tocava, seu corpo começou a girar de- vagar, algo que acabei por interpretar como sua ma- neira de expressar prazer. Sorri. Quando parei de 15/29