Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 19
sofá. Ligou a televisão. Era tarde, mas levei o jantar
para ele, sopa de pimentão com bastante carne de
bode, galinha e camarões grandes. Ele estava com o
bom humor de bêbado. Mas quando fiquei ali obser-
vando ele comer, toda minha coragem sumiu. Toda
minha necessidade de mudança correu e se escon-
deu no fundo do meu inconsciente.
— Você quer mais alguma coisa? — perguntei.
Ele levantou os olhos para mim e sorriu de
verdade.
— A sopa está gostosa hoje.
Sorri, mas alguma coisa dentro de mim abaixou
a cabeça.
— Que bom — eu disse. Peguei meu violão. — Vou
lá para os fundos. Está gostoso lá fora.
— Não vá muito perto do duto — disse ele. Mas es-
tava olhando para a TV e roendo um pedaço grande
de carne de bode.
Penetrei na escuridão, no meio de arbustos e
mato, até o oleoduto. Sentei-me no lugar de sempre.
A uns 30 centímetros do duto. Dedilhei com suavi-
dade uma série de acordes. Uma melodia desolada
que traduzia meu coração. Para onde ir além dali?
Aquela era minha vida? Suspirei. Fazia um mês que
eu não ia à igreja.
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