Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 18
eu não conseguia lhe dar uma criança. É culpa mi-
nha, eu sei, mas o que posso fazer?
Percebi que eu saía para o quintal cada vez mais.
E essa Zumbi em especial me visitava todas as ve-
zes. Eu adorava tocar para ela. Ela queria ouvir.
Seus lindos olhos brilhavam de alegria. Será que um
robô podia sentir alegria? Eu acreditava que os in-
teligentes, como aquela, podiam. Várias vezes por
dia eu via uma multidão de Zumbis percorrendo o
oleoduto, para fazer reparos ou vigiar, seja lá o que
fizessem. Se minha Zumbi estava entre eles, eu não
poderia dizer.
Foi mais ou menos na décima vez que me visitou
que ela fez algo muito, muito estranho. Meu marido
chegou com um cheiro de combustão, fedendo a vá-
rios tipos de álcool: cerveja, vinho de palma, perfu-
me. Eu tinha passado o dia refletindo. Sobre minha
vida. Eu estava presa. Queria um bebê. Queria sumir
daquela casa. Queria um emprego. Queria amizades.
Precisava de coragem. Eu sabia que tinha coragem.
Fiquei frente a frente com uma Zumbi, várias vezes.
Eu ia falar com o meu marido sobre lecionar
na escola primária. Ouvi que estavam procurando
professoras. Quando ele entrou, me cumprimentou
com um beijo e um abraço desleixados e se atirou no
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