Projeto Cápsula Aranha, a artista | Nnedi Okorafor | Page 11
Naquele dia ele só estapeou meu rosto com força.
Eu não fazia ideia do porquê. Ele simplesmente en-
trou, me viu na cozinha e plaft! Quem sabe teve um
dia ruim no trabalho (ele dava duro em um restau-
rante local). Quem sabe uma das mulheres dele o es-
nobou. Quem sabe eu tenha feito algo errado. Eu não
sabia. Não me importava. Meu nariz estava parando
de sangrar e eu não estava mais vendo tantas estrelas.
Apenas centímetros de distância entre meus pés e o
oleoduto. Eu estava particularmente destemida naque-
la noite. Estava mais quente e úmido do que o normal.
Ou, quem sabe, fosse meu rosto, que ardia e queimava.
Os mosquitos nem me incomodavam tanto. De
longe, eu podia ver Nneka, uma mulher que quase
nunca falava comigo, dando banho em seu filhinho
em uma banheira enorme. Várias casas adiante,
alguns homens estavam jogando baralho em uma
mesa. Estava escuro, havia árvores bem pequenas e
arbustos ali e até mesmo nosso vizinho mais próxi-
mo não estava tão perto, então eu estava escondida.
Dei um suspiro e coloquei as mãos nas cordas do
violão. Dedilhei uma melodia que meu pai costuma-
va tocar. Suspirei e fechei os olhos. Sempre sentia
saudade do meu pai. A sensação das cordas vibran-
do sob meus dedos era magnífica.
6/29