Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 14

minúsculo recinto, estão dois esfregões com cabeças fétidas e endurecidas, cobertas de grumos, ao lado de um balde enferrujado. O chão é sujo, um pouco úmi- do ao toque, como a sujeira dos porões geralmente é. O espaço tem cerca de três passos de comprimento e dois de largura: um mero armário de vassouras ou depósito abandonado de ferramentas. Uma criança está sentada no cômodo. Poderia ser um menino ou uma menina. Parece ter uns seis anos, mas na verda- de tem dez. É mentalmente debilitada. Talvez tenha nascido com uma anomalia, ou talvez se tornou li- mitada por causa do medo, da desnutrição e da ne- gligência. Cutuca o nariz e às vezes mexe vagamente nos dedos dos pés ou nos genitais, enquanto se curva no canto mais distante do balde e dos dois esfregões. Tem medo dos esfregões. Acha que são terríveis. Fe- cha os olhos, mas sabe que estão ali, em pé; e a porta está trancada; e não virá ninguém. A porta está sem- pre trancada; e nunca vem ninguém, exceto às vezes (a criança não tem compreensão do tempo ou de in- tervalos), às vezes a porta chacoalha terrivelmente e se abre, e uma pessoa (ou várias) aparece ali. Uma delas pode entrar e chutar a criança para fazê-la ficar de pé. As outras nunca se aproximam, mas a espiam com olhos assustados, enojados. A tigela de comida 9