Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 13

vê; os olhos escuros estão completamente extasia- dos com a doce e afinada magia da canção. Ele termina e lentamente abaixa as mãos que se- guram a flauta de madeira. Como se aquele breve silêncio particular fosse um sinal, o trompete soa imediatamente no core- to perto da linha de partida: altivo, melancólico e pungente. Os cavalos se empinam sobre as pernas delgadas e alguns deles relincham em resposta. Com expressão séria, os jovens montadores acariciam os pescoços dos cavalos e os acalmam sussurrando: “Quieto, quieto. Pronto, minha beleza, minha espe- rança…”. E começam a tomar posição ao longo da linha de partida. À margem da pista de corrida, a multidão parece um campo gramado e florido sob o vento. Começou o Festival de Verão. Vocês acreditam? Aceitam o festival, a cidade, a alegria? Não? Então, deixem-me descrever mais uma coisa. No subsolo de um dos belos edifícios públicos de Omelas, ou talvez no porão de uma de suas espaço- sas residências, há um recinto. Tem uma porta tran- cada e nenhuma janela. Um pouco de luz se infiltra ali entre rachaduras nas tábuas, entrando indireta- mente por uma janela coberta de teias de aranha em algum lugar do outro lado do porão. Em um canto do 8