Projeto Cápsula Acender uma Fogueira | Jack London | Page 29
A falta de sangue na superfície do corpo o fazia tre-
mer de frio, deixando-o ainda mais descoordenado.
Um pedaço grande e úmido de vegetação caiu na pe-
quena fogueira. Ele tentou empurrá-lo com os dedos,
mas seu corpo trêmulo o fez empurrar longe demais
e ele espalhou o núcleo da pequena fogueira em uma
área mais ampla. Ele tentou juntar novamente a gra-
ma e os gravetos em chama, mas a despeito de seu
intenso esforço, os dedos trêmulos não obedeciam e
os gravetos estavam irremediavelmente separados.
Cada graveto produzia fumaça e morria. O provedor
de fogo falhara. Olhando ao redor com apatia, notou
o cão sentado do outro lado das ruínas da fogueira.
Estava movimentando-se de forma inquieta, levan-
tando ligeiramente uma pata e então a outra.
A visão do cão lhe deu uma ideia desvairada.
Lembrou-se da história de um homem, preso em
uma tempestade, que matou um novilho e abrigou-
-se em seu corpo para salvar-se. Ele mataria o cão
e enterraria as próprias mãos no corpo quente até
que a sensibilidade retornasse. Então faria outra fo-
gueira. Ele falou com o cão, chamando-o para si, mas
havia em sua voz uma nota dissonante de medo que
assustou o animal, que nunca ouvira o homem falar
nesse tom antes. Algo estava errado e sua nature-
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