Projeto Cápsula Acender uma Fogueira | Jack London | Page 23

tocava um galho, precisava olhar para verificar se o segurava ou não. Parecia não haver mais conexão entre o homem e a ponta dos dedos. Tudo isso pouco importava. Havia a fogueira, cre- pitando e estalando, com sua promessa de vida em cada chama dançante. Ele começou a desamarrar os mocassins. Estavam cobertos de gelo, as grossas meias alemãs quase até os joelhos pareciam ser fei- tas de ferro e os cadarços, cordas de aço. Por um mo- mento, tentou puxá-los com os dedos adormecidos. Então, percebendo a tolice do gesto, pegou a faca. Porém, antes que cortasse o cadarço, aconteceu. Foi culpa dele, ou melhor, erro dele. Não deveria ter feito a fogueira sob um pinheiro. Deveria ter ido para uma área aberta. Mas fora mais fácil pegar os grave- tos da própria árvore e jogá-los direto na fogueira. A árvore sob a qual ele fizera a fogueira carregava neve em seus galhos. O vento não soprava há sema- nas e cada galho estava carregado de neve. Cada vez que o homem puxava um graveto, mandava leves ondas por toda a árvore, movimentos quase imper- ceptíveis, mas suficientes para causar o desastre. Lá no topo da árvore, um galho derrubou sua carga de neve. Essa caiu nos galhos abaixo, fazendo-os der- rubarem a sua carga. Esse processo continuou, es- 18