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44 ESPAÇO CONAMP Abril 2020 | Justiça & Cidadania n o 236 Atuação do MP em defesa dos direitos da mulher Por meio dos aprendizados que um padrão de viver com maior equidade de gênero pode proporcionar, será possível construir uma nova sociedade” Acompanhar a evolução da diversidade na sociedade brasileira é urgente Manoel Murrieta Promotor de Justiça Presidente eleito da Conamp T odos os anos, o dia 8 de março traz a oportunidade de refletirmos sobre as mulheres que convivem ao nosso lado. A proteção dos direitos da mulher é uma das principais atribuições do Ministério Público (MP), que tem apreciado a ascensão da par- ticipação feminina em diversos segmentos, seja no setor público ou no privado. Com um olhar minucioso, promotores de Justiça e procuradores acompanham a evolução do papel da mulher brasileira ao longo dos anos. Um processo que também tem se intensi- ficado, levando em conta que junto a esses avanços são também esperados melhores índices e resultados que beneficiam direta- mente as mulheres. Na contramão da evolução tão esperada pela sociedade em termos de segurança pública, destacam-se elevados índices de violência contra a mulher. Os números são altos e os prejuízos vão além das esferas psi- cológica e emocional. A dor de uma agres- são, desrespeito ou destrato reflete na pro- dução, na prestação de serviços, na geração de receitas e despesas. Atualmente, cerca de 34,4 milhões de mulheres são responsáveis pelo sustento de suas famílias. Em 2018, esse comando feminino já era uma realidade em 45% dos lares brasileiros. Presença e prota- gonismo crescente em todas as esferas da sociedade, inclusive no Judiciário. Em 2019, 16 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica. Cabe destacar que, além do dano humano, o atendimento a essas vítimas demanda recursos para inves- timento com movimentação do Judiciário, medidas protetivas, deslocamento para aten- dimento psicológico, odontológico e estético. O Ministério Público entende que é preciso ampliar essa luta para que todos os direitos e prerrogativas das cidadãs brasileiras sejam preservados, conforme prevê nossa Cons- tituição. Ninguém melhor do que elas pró- prias para assumir essa liderança e apontar as melhores diretrizes para a construção de uma sociedade mais igualitária. As promoto- ras de Justiça e procuradoras têm se engajado em grupos de trabalho específicos para levar conscientização sobre empoderamento das mulheres, tanto junto às comunidades quanto para outros órgãos públicos. O empenho por parte das mulheres representantes do MP é inegável, há muita vontade de fazer acontecer. No entanto, em um universo de pouco mais de 14 mil membros do Ministério Público – representados pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp) – apenas 30% dos associados são mulheres. É importante ressaltar que o MP busca somar todos os esforços que contribuem para a erradicação de qualquer forma de discriminação e violência contra a mulher. No dia 3 de março desse ano, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, que cria uma atuação integrada entre o Poder Judiciário e o Ministério Público no aten- dimento aos casos de violência doméstica. Trata-se de um questionário, com 27 perguntas que podem ajudar a identificar fatores de risco para agressões futuras. Unidas para atuar pela Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica contra a Mulher (Copevid) e pela Comissão de Mulheres da Conamp, promotoras e procuradoras de Justiça têm trabalhado em iniciativas relevantes a exemplo da prevenção e ressocialização do agressor. A partir das ações imple- mentadas, constatou-se que o índice de reincidência, que era de 65%, chegou a praticamente zero. A realidade que se vê fora é a mesma com a qual convivem as nossas procuradoras e promotoras de Justiça nos ambientes do Parquet. Quando se fala em liderança, o cenário é de ainda menos representativi- dade da diversidade entre os cargos ocupados pelos tomadores de decisão. Uma cultura que precisa ser convertida. Enquanto essas mulheres, que dedicam anos de preparo e abdicam de suas vidas para exercer o cargo, não receberem o mesmo tratamento e nível de oportunidades dos homens, o papel de guardião dos direitos sociais e individuais atribuído ao Ministério Público estará em risco. Com o tempo, as iniciativas tendem a ser aprimoradas. Ainda assim, há que cele- brar as pequenas ações que, quando tra- balhadas com união e comprometimento, podem promover grandes transformações. É isso o que o Ministério Público busca: mudança! Eliminar a longo prazo todas as questões que envolvam racismo ou violên- cia contra mulheres e minorias, para que nossas cidadãs consigam ter um ambiente de convivência saudável e seguro tanto na área pública quanto na privada. O novo deve nascer de dentro. E por meio de boas práticas e dos aprendizados que um padrão de viver com maior equidade de gênero pode proporcionar, será possível construir uma nova sociedade. 45