Pro RJC_236_DIGITAL | Page 20

20 EM FOCO Abril 2020 | Justiça & Cidadania n o 236 Os Ministros do STJ Luis Felipe Salomão, à esquerda, e Antonio Saldanha Palheiro recente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- soal de Nível Superior (Capes), fundação do Ministério da Educação (MEC), que estabeleceu uma disciplina obrigatória sobre as soluções extrajudiciais nas facul- dades de Direito.  Sobre o contexto da economia global, Salomão ressaltou estar em curso um processo de integração transnacional: “Um mundo em que cada vez mais se fala em ordens jurídicas para além do Estado, na volta das soluções pelas corporações, em lex mercatoris, jus- titia desportiva e lex digitalis. Estudamos hoje fórmu- las de compliance e autorregulação. É uma tendência mundial, porque nessa época de responsabilidade civil por drones, personalidade jurídica de robô, algoritmo, barriga de aluguel e etc., os novos conflitos demandam novas formas de resolução”.  Oferta, demanda e tarifas – No painel que tratou do Agronegócio sob a ótica da AED, presidido pelo Ministro Noronha, o Presidente da Comissão Especial de Direito Agrário da OAB, Antônio Augusto de Souza Coelho, debateu os efeitos das tarifas na lógica de for- mação de preços dos produtos agrícolas. “A imposição mal pensada as tarifas, mesmo que por um erro de apenas alguns pontos percentuais na alíquota apli- A interrupção do conflito que caminha em direção ao litígio judicial, por vezes, implica na sobrevivência de empresas, mercados e relações” Ministro Luis Felipe Salomão cável, pode trazer prejuízos devastadores para todo um setor”, alertou Coelho, que apontou como efeitos adversos as restrições à livre concorrência e a criação artificial de monopólios e monopsônios. “Qualquer política pública que busque criar ou majorar alíquotas no agronegócio deve ser cuidado- samente pensada, com minucioso estudo de impacto econômico, para se ter certeza de que essa imposição realmente estimula o verdadeiro interesse público. Ademais, entendo que ao interpretar normas tarifá- rias, os operadores do Direito, juristas, advogados e juízes devem igualmente estar imbuídos desse espírito de cuidado e cautela, pois as repercussões gravosas passíveis de ocorrerem por um pedido ou uma decisão mal pensada envolvendo política tarifária podem ser irremediáveis”, finalizou Augusto Coelho. Recursos hídricos – Na mesa sobre “Regulação dos recursos hídricos e desenvolvimento econômico”, a Gerente Regional da área no Banco Mundial, Rita Cestti, apresentou estudo preocupante sobre o con- texto brasileiro, que relaciona: escassez de água devido à falta de chuvas, alta demanda e/ou poluição; secas e enchentes frequentes, sobretudo na Região Nordeste, que teve 82,6% dos seus municípios atingidos em 2018; crise de abastecimento nas regiões Centro-Oeste, Nor- deste e Sudeste; e uma disputa pela água cada vez mais acirrada em virtude do desenvolvimento da agricul- tura irrigada e da geração de energia, particularmente nas regiões em que o recurso é mais escasso. As perdas econômicas são estimadas por ela em US$ 15,7 bilhões nos últimos dez anos.  De acordo com Cestti, os principais desafios para melhor a situação nos próximos anos são: a capacidade institucional limitada e desigual entre os estados e regiões; as pressões para expandir a agricultura irri- gada; a deficiente gestão de inundações, que demanda urbanização e a desocupação de áreas perigosas; e a necessidade de ampliação da infraestrutura de segu- rança hídrica, incluindo mecanismos de governança e financiamento.  Combate à corrupção – O Ministro da Contro- ladoria-Geral da União, Wagner Rosário, participou da mesa “Responsabilidade e Análise Econômica” ao lado do Controlador-Geral dos Estados Unidos, Gene Dodaro. Rosário falou principalmente sobre a política de combate à corrupção desenvolvida pela CGU. Além das consequências econômicas da corrupção, ele elen- cou questões que precisam ser enfrentadas para que as ações sejam mais efetivas: aumento da transparência e da participação social; criação de canais confiáveis de denúncia; e melhor coordenação entre as áreas, órgãos e instituições envolvidas no combate aos malfeitos.  O Ministro também ressaltou os benefícios trazi- dos pelas novas tecnologias a essa seara, pela forma como possibilitam o cruzamento de dados, a análise de informações complexas e a criação de “trilhas” automatizadas para indicar a ocorrência de possíveis fraudes.  Outros temas e participantes – Foram realizados ainda painéis com os especialistas sobre compliance, cibersegurança, agronegócio, leis antitruste e Direito imobiliário. Da delegação brasileira, além dos já citados, também fizeram parte como palestrantes os minis- tros do STJ Antonio Carlos Ferreira, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Paulo de Tarso Sanseverino, Raul Araújo Filho, Ricardo Villas Bôas Cueva e Sebastião Reis.  Participaram ainda como palestrantes e debatedo- res o Desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) André Fontes, o Desembargador do TJSP Heraldo de Oliveira, o Juiz Auxiliar do CNJ Carlos Vieira von Adamek, o Juiz do TJSP Marcus Onodera, o Juiz Auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça, Alexandre Chini, o Conselheiro do CNMP Juiz Valter Shuenquener de Araújo, o Secretário de Desenvolvi- mento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, Lucas Tristão, a Vice-Presidente da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Ana Tereza Basilio, o Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ Direito-Rio) Antônio José Maristrello Porto, a Profes- sora da Universidade de São Paulo (USP) Giselda Hiro- naka, e os advogados Luiz Antonio Nabhan Garcia, Renata Vargas Amaral e Vander Giordano.  Da delegação norte-americana, além dos já cita- dos, fizeram parte o Juiz do Condado de Miami, Fló- rida, Robert Watson; a Diretora do Programa de Cer- tificação de Leis Anticorrupção dos EUA, Professora Nancy Boswel; o Diretor Executivo do Instituto de Segurança Nacional, Professor Jamil Jaffer; a Dire- tora do Centro de Estudos de Direito Internacional e Comparado da WCL, Padideh Ala’i; os professores da WCL Fernando Laguarda e Jeffrey Lubbers; o gerente de serviços especiais globais da Hazelwood Street Consultants, Grant Kaplan; e as advogadas Ella Alves Capone e Janis Schiff. 21