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UM
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V
Por trás das janelas semiabertas, em barracos, os vizinhos
tentam acompanhar o barulho da rua, sem chamar a atenção. Do
lado de fora, um garoto de doze anos desce a avenida gritando.
O bairro é o Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo. A maioria
das casas tem dois quartos. Além dos barracos, há muitos sobrados improvisados, como caixotes, na encosta do morro.
O adolescente tem cabelo louro, corpo franzino e olhos
azuis reluzentes. Sobre o carrinho de rolimã, ele parece voar.
Uma cena comum em meio às moradias populares, normal para
garotos que gostam de aventura. Mas, na cintura, preso ao
bermudão descorado, dois revólveres tiram a ingenuidade da
brincadeira. O voo de Ricardo é duplo. Ele passou a manhã inteira cheirando cola e fumando maconha nos becos do bairro.
Década de 1980. Jardim Ângela, bairro operário. Durante
o dia, lugar das casas simples, dos trabalhadores, das ruas
estreitas, das crianças nas calçadas, de uma brisa gostosa, que
lembra as cidades do Interior. Durante a noite, bairro dos becos cinzentos, das bocas-de-fumo, das motocicletas aceleradas
cortando o silêncio das calçadas, do tráfico, da violênc XK