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VIVER DE CARA LIMPA Era como se uma nuvem atravessasse a minha cabeça. Ao mesmo tempo que me sentia cheio de coragem para enfrentar os problemas que estavam surgindo na minha casa, pressentia que uma situação ruim estava começando a partir daquele momento. Maria Manso, em Só na paz, escreve que, em 2000, de cada cem mil jovens homens, 95,6 foram vítimas de homicídio. A estatística é parte do capítulo “Juventude e violência”, no qual Manso conta a experiência vivida por outra jornalista, Tânia Morales, dentro da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) de São Paulo, registrando a rotina de grupos de adolescentes. Em um dos relatos, um jovem diz à jornalista: 2 Também chamado de “vapor”. Pessoa usada para levar a droga, vender a mercadoria repassada pelo traficante. 14 ] ] O efeito dava coragem cada vez maior. A “viagem” era cheia de sonhos nebulosos. Visões que enchiam o peito de felicidade, mas que exigiam sempre uma dose mais forte para continuarem acontecendo. Para sustentar o próprio consumo, o garoto passou a ser “mula”2 dos traficantes; levava drogas de um lado para o outro do bairro, abastecendo as bocas-de-fumo. Não chamava atenção da polícia nem dos moradores, porque tinha boa aparência, era brincalhão, sabia disfarçar bem. No primeiro ano, usou benzina, cola, maconha. Os pequenos furtos que praticava, sozinho ou em grupo, também ajudavam a pagar a droga de que precisava. E, depois que decidiu entrar para uma das gangues do bairro, passou a andar armado.