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VIVER DE CARA LIMPA
V
O jornalista Gilberto Dimenstein, em O mistério das bolas de
gude, descreve o Jardim Ângela como um pequeno aglomerado
de casas em área de manancial na Zona Sul, que chegaria a
ter quase trezentos mil habitantes e, em 1999, seria apontado
pela Organização das Nações Unidas como a região mais violenta de todo o Planeta.
Foi nesse aglomerado que Ricardo deu seus primeiros passos no mundo do tráfico e do crime. Num território dividido
onde“os indivíduos não se sentiam percebidos nem acolhidos,
quase invisíveis até mesmo para suas famílias”, nas palavras
de Dimenstein.
O Jardim Ângela nasceu em volta da bacia do rio Guarapiranga,
em meados dos anos 1960, pelos pés e pelas mãos de migrantes
nordestinos e mineiros, que iam para São Paulo trabalhar nas
indústrias. A área onde, pouco a pouco, foram erguidas centenas
de casas tem topografia irregular, fica perto de extensões que
deveriam ser ambientalmente preservadas, como mananciais de
água. A represa de Guarapiranga é atualmente responsável pelo
abastecimento de água de trinta por cento da população de dez
milhões de paulistanos, segundo a Prefeitura da cidade.
Nos primeiros anos, não havia água encanada, asfalto, rede
de energia e linhas de ônibus urbanos. Nas décadas de 1970 e
1980, o distrito4 sofreu um intenso processo de ocupação, e
atualmente tem mais de cinquenta bairros, com população estimada de duzentos e cinquenta mil habitantes (ibge).
4 O Jardim Ângela é um dos dois distritos que compõem a área da Subprefeitura do M’Boi Mirim,
na Grande São Paulo, cuja área de atuação é de 62,1 km² e 145 mil domicílios, onde vivem 532 mil
pessoas, segundo a Prefeitura Municipal. O outro distrito é o Jardim São Luís.
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