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RECORDAÇÕES DE MINHA PRIMEIRA INFÂNCIA
a
mais pela misericórdia materna do que por um efetivo arrependimento…
Uma manhã, quando ainda frequentava a escola, disse
à minha mãe – um pouco porque queria descansar mais,
um pouco porque não me sentia preparada para o que me
aguardava na sala de aula – que não estava me sentindo
bem. “Então vou lhe dar óleo de rícino!”, foi a resposta que
colocou à dura prova minha decisão. Mas eu era orgulhosa
demais para voltar atrás e…, assim, tomei o óleo de rícino
de uma vez. Porém, acho que pelas consequências, foi a
única vez em que ousei mentir.
Pelo temperamento forte e impetuoso que me caracterizava, nunca dei o braço a torcer.
“Você precisa ser obediente, comportar-se bem e calar
quando os outros estão falando!” Eu escutava sempre essa
frase, mas era tão distraída que logo esquecia as recomendações, bem como meus bons propósitos. As brincadeiras
com as outras crianças me envolviam a tal ponto que, às
vezes, eu não escutava minha mãe me chamando repetidamente. Por fim, de maneira vigorosa, ela me recordava
todos os meus deveres de criança.
Um amor apaixonado pela liberdade, que sempre senti,
fez com que eu nunca quisesse dividir meu quarto com
ninguém. E, para salvar minha independência, superava
até mesmo o indefectível medo dos espíritos, que todas as
crianças sentem quando a luz se apaga.
Eu gostava de dormir com a janela aberta, em qualquer
estação do ano. Quando, certa vez minha avó veio nos visitar, percebeu isso e contou à minha mãe, censurando-a,
preocupada com as consequências negativas que essa imprudência poderia ter para minha saúde.
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