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FATOS QUE AINDA NÃO CONTEI havia­chuva, neve, sol ou vento que nos detivessem, pois nunca perdemos uma missa de preceito. Nem mesmo chegávamos atrasadas às aulas da escola ou de corte e costura, que as Irmãs ministravam às quintas-feiras, dias de folga da escola que, naquele tempo, frequentávamos pela manhã e à tarde. O mesmo dinamismo que aprendíamos a ter para superar as dificuldades ou a preguiça animava também nossa vida doméstica. Minha mãe sabia fazer de tudo e desejava que nós a imitássemos; assim, ela não nos deixava um segundo sem ter o que fazer: ou estávamos tricotando ou lavando a louça; nosso tempo livre dos estudos ficava completamente preenchido. Desde o primário, por exemplo, eu sabia manejar a máquina de costura, que usava com certa habilidade, apesar do esforço para alcançar os pedais. Era provavelmente devido a essas qualidades que, na escola, durante as visitas dos superiores, os professores pediam que ficássemos em pé e nos apresentavam como as melhores alunas. Continuando a revolver na memória daqueles primeiros anos, de vida, despontam com igual vivacidade muitos outros fatos que não se destinavam a recolher a mesma aprovação… Ainda me vejo, como se fosse hoje, com apenas quatro anos no mercado da cidade, fugindo de um vendedor enfurecido, de cuja banca eu havia surrupiado um atraente apito de madeira em forma de galo que, pelo simples fato de ter-me agradado, imediatamente considerei de minha propriedade. Mais de uma vez experimentei a escuridão do porão da minha casa, lugar de punição extrema, de onde eu saía 26