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FATOS QUE AINDA NÃO CONTEI Dessa experiência, vivenciada quando criança, não ficou tanto a marca do medo, quanto o desejo, a necessidade que senti de, antes de tudo, salvar a alma. Acredito que o que me deu esse sentido da vida, do bem e do mal, e até mesmo do Juízo Final, foi a educação essencialmente religiosa recebida na família e na escola. Minha mãe amava a literatura e passava horas lendo obras de poetas e escritores de todos os tempos, principalmente à noite e na penumbra, para não incomodar meu pai. Justamente por esse amor por coisas belas e grandiosas, ela gostava demais de conhecer a vida e os escritos dos santos, enriquecendo, assim, a própria personalidade e nutrindo a sua cultura que, por sua vez, transmitia também a nós, suas filhas. Além de nos informar sobre política e literatura, levando-nos a participar de suas conversas com quem tinha as mesmas exigências, minha mãe se preocupava em ampliar a instrução religiosa que recebíamos na paróquia e das Irmãs. De vez em quando, fazia uma “prova” sobre aquilo que tínhamos escutado na homilia da missa de domingo e dias santos, ou no catecismo, para ter a certeza de que realmente prestávamos atenção. Todas as noites, ajoelhadas nas cadeiras de madeira da cozinha, rezávamos juntas o terço e as ladainhas. Durante o mês de maio, com a fantasia das crianças, revivíamos os fatos emocionantes das aparições de Lourdes, por meio dos textos que minha mãe nos lia; e eu entoava a ave-maria, orgulhosa dessa minha tarefa. Fiquei impressionada pela devoção e pelo zelo de minha mãe, que rezava para livrar as almas do purgatório e 24