Preview dos produtos 56b0abdf868fb518018292pdf | Page 21
RECORDAÇÕES DE MINHA PRIMEIRA INFÂNCIA
a
Por isso, quando ele foi me socorrer, levantei-me com um
esforço enorme e, disfarçando a dor com um sorriso amarelo, disse-lhe que estava muito bem. Saí caminhando sozinha, perfeitamente empertigada, como se nada tivesse
acontecido… Só depois que dobrei a esquina desabafei,
chorando e mancando.
Já em outra ocasião, não pude esconder o vistoso corte
no joelho que consegui arranjar com uma queda. Eu tinha
horror a feridas, mas sofria muito mais pelo sangue e todo
o aparato de pronto-socorro utilizado pela minha mãe do
que propriamente pela dor física. Em todo caso, naquela
noite fui para a cama com o joelho devidamente enfaixado.
Qual não foi minha consternação quando, ao me acordar
de manhã, percebi que a atadura se tinha desfeito, grudada
só numa extremidade da ferida.
Girei pela casa aflita, porque tinha de ir à escola e, para
isso, precisava tomar a decisão de arrancá-la de vez. Mas
não tinha coragem, nem permitia que alguém me ajudasse, quem quer que fosse. O tempo passava, até que meu pai
me tirou daquela situação embaraçosa: com a devida distância, pisou na atadura que eu continuava a arrastar pelo
chão. Um grito terrível ressoou pela casa… Mas foi só assim que naquele dia consegui chegar à escola no horário.
Durante certo tempo, moramos num lugarejo próximo
à cidade.
As luzes e as vitrines da cidade estimulavam nossa fantasia e despertavam em nós, meninas, o desejo de ver e conhecer tantas novidades.
Um dia, minha irmã menor, uma amiguinha e eu decidimos nos aventurar. Fomos à cidade a pé, sozinhas;
29