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A visão do homem em Chiara Lubich
Por esse motivo, conclui Chiara, “nós somos […] se somos o
outro” (Lubich, 2004, p. 68).
Dessa visão, nasce uma concepção da pessoa que é quando se
coloca em constante relação concreta com o outro e que se realiza
essencialmente como relação.
É o que evidenciam algumas correntes do pensamento filosófico
contemporâneo, deixando assim que se entreveja o surgimento de
uma nova ontologia: a ontologia do amor. “Poder-se-ia quase dizer” –
afirma, por exemplo, de maneira exemplar, Emmanuel Mounier –
“que eu existo somente quando existo para o outro, e, no limite, que
ser é amor. […] O ato de amor é a mais sólida certeza do homem […]:
eu amo, portanto o ser é e a vida vale” (Mounier, 1964, p. 35-37).
A livre resposta do homem
Esse chamado ao amor, inerente ao desígnio de Deus para o
homem, requer a livre resposta do homem.
É, de fato, na liberdade, de que Deus o dotou e que é nele “sinal
altíssimo da imagem divina” (Gaudium et spes, nº 17), que reside a sua
capacidade de aderir a esse apelo e fazer, assim, a extraordinária experiência de ser, com Ele, artífice da própria vida e do próprio destino.
Mas tudo isso pode também não acontecer; o homem, justamente por ser livre, pode também não amar; é a experiência obscura da ruptura da relação com Deus, da distância Dele e, ao mesmo
tempo, do desaparecimento da comunhão com os outros homens;
numa palavra, a “desfiguração” de sua “imagem” mais verdadeira,
como afirma um grande Padre da Igreja, Gregório de Nissa7.
7 “Deus é amor e fonte de amor […]. O Criador imprimiu em nós também esse caráter. ‘Disso
todos saberão se sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros’ (Jo 13,35). Portanto, se
isso não existir, toda a imagem será desfigurada” (Gregório de Nissa, De hom. Op. 5: PG 44,137).
Significativamente, também Chiara reconhece no mandamento do amor mútuo vivido “o coração da antropologia cristã” (cf. Lubich, 1997, p. 24).
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