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O Sentido da Educação
no desenvolvimento humano. Através dos jogos e brincadeiras nos tornamos seres mais
alegres e criativos.
“Nenhuma nação se afirma fora dessa louca paixão pelo conhecimento, sem que se
Ser criativo é ter uma percepção mais sensível do mundo e das experiências reservadas
aventure, plena de emoção, na reinvenção constante de si mesma, sem que se arrisque
pela vida, é se permitir “brincar” com as coisas e com os conceitos, explorando idéias e
criadoramente”.
situações pelo simples prazer de ver onde elas podem levar. A Arte e a Educação valorizam a
Paulo Freire
criatividade, andam de mãos dadas, pois juntas se fortalecem no objetivo da transmissão de
conhecimentos.
“O que diferencia o homem do animal é o exercício do registro da memória humana”.
Vygotsky
A construção do conhecimento se dá através de experiências concretas, segundo Piaget, e
quanto mais lúdica, interessante e real for o processo de aprendizagem, maior a assimilação.
Existem diversas propostas lúdicas que fazem parte da identidade histórico-cultural de
A educação formal e social, por vezes, acentua as funções cognitivas e motoras, sem atentar
na mesma intensidade para o desenvolvimento sensorial.
Em nossa cultura (ocidental), infelizmente, por diversas gerações vem sendo transmitida a
de roda, danças, manifestações populares, músicas, pinturas, esculturas e as histórias de
tradição oral que passam de geração a geração.
educação do “não sentir”. Esta lacuna gera desequilíbrio no “ser” - uma perda de sensibilidade
Alguns pesquisadores da Cultura Popular consideram que os brinquedos de roda tiveram
e uma falta de “senso” pode gerar: inibição, alienação, depressão, ansiedade, agressividade,
diferentes origens. Alguns partiram de danças e jogos praticados pelos adultos, outros
falta de limites, etc.
nasceram de histórias infantis e outros de cenas da vida cotidiana.
Somos compostos de órgãos perceptivos: olhos, ouvidos, nariz, boca e pele. Nossos cinco
sentidos nem sempre são organizados e exercidos. Geralmente, os bebês são biologicamente
organizados, praticam seus sentidos vendo, ouvindo, cheirando, provando, tateando.
As exigências sociais acabam condicionando-nos para a predominância do olho,
evidenciando um dos sentidos: o da visão. A sociedade humana valoriza o visual: ver para crer.
O problema da super valorização visual é que ela tende a separar, mantendo distante outros
sentidos. A questão do preconceito permaneceria se todos fôssemos cegos?
A uma certa altura, paramos de nos tocar e tocar as pessoas, quase não expressamos nossos
sentimentos.
Talvez por isso, na maior parte do tempo, nos encontramos tensos, ansiosos, fora de contato
com todo nosso corpo. Ficamos assim des/integrados, des/organizados.
Necessitamos re/equilibrar, atentar mais para o que acontece em nós e ao nosso redor. No
dia-a-dia, é tanto o distanciamento de nós mesmos com o mundo, que perdemos contato com
a essência da natureza, ficamos destoados.
Precisamos exercitar a sensibilidade e isso pode ser feito de maneira lúdica desde criança.
Nesse sentido é que acredito que as rodas e brincadeiras cantadas ocupam importante papel
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crianças brasileiras e que promovem o encontro da Arte e da Educação. São elas: brincadeiras
A cultura brasileira teve a contribuição principalmente de três elementos étnicos: o índio, o
europeu e o africano, que deixaram nas cantigas e brincadeiras de roda suas marcas.
Mário de Andrade em “Influência portuguesa nas rodas infantis do Brasil”, nos assegura, com
autoridade, que “a roda infantil brasileira, como texto e tipo melódico, permanece firmemente
européia e particularmente portuguesa”.
Acredito que chegando de fontes diversas, atravessaram os tempos sofrendo modificações
determinadas pela rítmica brasileira, foram se adaptando entre nós e automaticamente se
incorporaram ao nosso patrimônio cultural.
Mário de Andrade já nos chamou atenção para as letras das cantigas de roda e suas quadrinhas,
que “ na maioria das vezes, não exprimem pensamento puramente infantil, provavelmente
porque nasceram dos folguedos, jogos e danças que se realizavam nos salões pelos adultos”.
Então quando cairam no domínio infantil, as letras e quadras conservaram as características de
origem e passando de geração a geração, fazem hoje parte da tradição popular.
É interessante notar que, ainda hoje, principalmente na periferia das grandes cidades, nas
regiões rurais e em cidades do interior, as brincadeiras de roda sobrevivem, e esta resistência
de preservação cultural existe graças as crianças.
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