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contemplavam-no como força dinâmica, semelhante ao fogo;
como Anaxágoras e Platão, viam nele o Intelecto de todas as
coisas, a Sabedoria do mundo.
Contudo, os profetas estavam bem distantes de admitir
com Buda que a vida terrestre fosse um mal e uma dolorosa ilusão. Diferentemente dos filósofos gregos da escola eleática, eles
não julgavam que o Criador e o real fossem uma única entidade
inseparável5. Ao contrário, afirmavam que Deus, mesmo em sua
majestade, está ligado às criaturas por vínculos de amor, e que o
homem é o seu eleito a quem ele se revela.
O que é mais misterioso nos profetas é a inspiração. Eles
não levantavam hipóteses, nem procuravam criar sistemas especulativos. O próprio Deus manifestava diretamente a sua vontade
através de suas bocas. Os discursos dos profetas começavam
habitualmente com as palavras: «Assim diz JHWH». O espírito
divino apoderava-se deles com uma força que os arrebatava, e as
pessoas ficavam atentas ao que diziam, como se fosse a própria
voz de Deus. Este milagre deixava os mesmos profetas pasmos e,
muitas vezes, até eles não entendiam profundamente o que Deus
revelava por seu intermédio.
Sentiam-se instrumentos, arautos, enviados do Onipotente.
Mas, ao mesmo tempo, não se assemelhavam em nada aos vates pagãos, como as pitonisas que profetizavam em estado de transe e de
delírio inconsciente. Na experiência dos videntes da Bíblia, quem
se punha diante do Ser Supremo, que se revelava como Pessoa, era
sempre um espírito humano equilibrado e luminoso. Deus falava ao
mundo e dele esperava uma resposta. Cumpria-se assim na pessoa
dos profetas a união da criatura com o Criador, realizava-se aquela
aliança que era a base da fé do povo de Israel.
Os profetas não só vivenciavam o encontro com Deus no
âmago do próprio ser, mas viam sua mão na vida dos povos. Isto
era uma descoberta singular em relação às outras religiões.
Christopher Dawson, historiador inglês, escreve: «A lei
eterna, que os gregos reconheciam no desenvolvimento ordena5) Dessa escola, fundada em Eléia por Xenófanes de Cólofon, faziam parte Zenão,
Parmênides e Melisso. O eleatismo vê no múltiplo uma ilusão d