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internacionais, de fé ou não, são muitas as Vidas de Cristo já publicadas. Em que vem contribuir, então, o livro do padre Mien? Na realidade, as perguntas a serem feitas são várias e de caráter mais geral. No fim do século XX da Era Cristã, quando os Evangelhos já foram estudados com rigor científico sob os mais diversos ângulos, versículo por versículo, tem sentido ainda parafraseá-los? É permitido à pessoa de fé escrever a história do Deus feito homem como se escreve a biografia romanceada de um personagem qualquer da história? Finalmente, é possível escrever a vida de Jesus sem cair no estilo lisonjeiro e apologético do gênero das vidas de santos tradicionais? Pensando bem, são justamente os minuciosos estudos do nosso século sobre o Novo Testamento — estudos que demonstraram a intenção primordial dos evangelistas de não fazer crônica biográfica — que motivam a necessidade da reconstrução histórica dos acontecimentos evangélicos. Apresentar a vida de Jesus ao leitor moderno com as características, para nós comuns, da biografia, não é apenas lícito, mas necessário. Como este gênero teve entre seus expoentes sobretudo escritores que não professavam fé alguma, talvez até por um sentimento de sagrado temor dos cristãos em contar com suas próprias palavras a história evangélica, faz-se ainda mais necessário ter Histórias de Cristo escritas por autores que reconheçam no Mestre de Nazaré o filho de Deus. Resta, é natural, que a Vida de Cristo é uma obra impossível de ser escrita quando se tem pretensão de contá-la de modo exaustivo. Não é possível dizer a última, definitiva palavra sobre aquele que se denominou “a Vida”. Contudo, isto não significa que, de modo parcial e numa perspectiva conscientemente pessoal e relativa, sua história não possa ser contada. Aliás, Jesus Cristo é a pessoa mais célebre e a mais “narrada” pela literatura, pela arte, pela escultura, pela música do mundo inteiro, ou seja, em todas as linguagens humanas relacionadas com a categoria beleza. Talvez seja justamente esta extraordinária “fecundidade inspiradora” do carpinteiro de Nazaré a prova mais cabal de que ele é “a Vida”. Portanto, a história de Cristo pode e deve ser contada sempre de modo diferente em qualquer época e por qualquer cultura, pelo simples fato de que ele se faz presente em qualquer época e em qualquer cultura. Sua vida é realmente a história que desafia o tempo, 12