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Encontramos abrigo aqui debaixo da ponte. Estou
sem documentos: meu pai e minha mãe bebiam,
havia problemas na família, então acabou todo
mundo se separando e os documentos foram junto.
Trabalho catando papelão. O mercado agora está
meio difícil. O papel está ruim. Num dia normal,
no máximo, trabalhando bem mesmo, a gente
pode arrecadar seis-sete reais.
(Nélson)
N
ão dá nem pra comer direito. A situação em
casa é precária. Às vezes, a gente come, às vezes
não tem para comer. Muito difícil de comer o
feijão, que está caro; a carne nem se fala. Então
se come arroz puro e folhas catadas no mato
aqui perto. Nossos filhos têm oito, sete, e cinco
anos; ninguém ainda vai para a escola. Vamos
ver se consigo agora a matrícula. Aqui tem muita
poeira, ataca muito as crianças, a pneumonia
ataca. Às vezes não tem dinheiro para comprar
remédio nem nada. Tem que tomar leite para
limpar o pulmão. Nós somos pessoas honestas,
trabalhamos de carroça, a gente vai pedir esmola
nas casas pra comer. Tem hora que dá medo aqui;
tudo está aberto. Aqui entra um, entra outro, entra pessoa que a gente não conhece nem nunca
viu. É perigoso.
(Zeni)
E
u vim depois; sou irmã da Zeni. Tenho oito
filhos e estou sozinha. Vim porque lá não dava
pra viver. É melhor aqui que na rua. A gente tem
um teto. Mas tenho medo, não há segurança nenhuma. Meu menino de dois anos tem bronquite,
pela poeira. O calor é a coisa pior: muito quente
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