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Na Luz do Pai
Ao mesmo tempo, a escuta é exercitada de maneira especial nas relações com o próximo. Trata-se de
uma arte difícil, que requer empenho, mas que também é libertadora. Lembro-me sempre do que me disse
certa vez um jovem. Eu era um padre recém-ordenado
e havia proposto a um grupo — que se encontrava periodicamente — que exercitasse por uma semana “ouvir
o outro”. Esse rapaz voltou na semana seguinte e me
disse: “Que canseira escutar!” Então entendi que, efetivamente, ele havia feito o exercício, porque escutar o
próximo significa fazer o vazio em si mesmo para dar
espaço ao outro.
Por conseguinte, justamente pela escuta da natureza e dos outros, aprendemos também a escutar Deus.
Eu diria que é experiência normal perceber mais profundamente dentro de nós a voz de Deus no momento
de solidão e de recolhimento, como pode ser a oração no
fim do dia. Esta é a escuta mais profunda e mais radical.
Para aprender a vivê-la é necessário, porém, percorrer
um caminho, superando o medo de adentrar aquele
espaço — que, à primeira vista, pode parecer vazio e
despido — livre das mil presenças e dos mil barulhos da
nossa vida: o espaço do silêncio e do deserto, no qual
desabrocha uma vida nova.
O homem de hoje talvez tenha esquecido essa
dimensão, até porque não lhe é oferecido um acompanhamento na escuta da voz de Deus, que acontece não
tanto na fuga do mundo, mas na vivência das inúmeras situações da vida. A voz de Deus é como uma pérola
que deve ser extraída da lama, é como uma plantinha
tenra que brota no terreno de nossa alma e que deve
ser cultivada com cuidado. Assim, cada dia do cristão
deveria ser repleto de tais momentos, de modo que, aos
poucos, esta atitude de oração se torne naturalmente,
com o nosso esforço e a ajuda da graça de Deus, o respiro
de nossa vida.