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36 Na Luz do Pai Ao mesmo tempo, a escuta é exercitada de maneira especial nas relações com o próximo. Trata-se de uma arte difícil, que requer empenho, mas que também é libertadora. Lembro-me sempre do que me disse certa vez um jovem. Eu era um padre recém-ordenado e havia proposto a um grupo — que se encontrava periodicamente — que exercitasse por uma semana “ouvir o outro”. Esse rapaz voltou na semana seguinte e me disse: “Que canseira escutar!” Então entendi que, efetivamente, ele havia feito o exercício, porque escutar o próximo significa fazer o vazio em si mesmo para dar espaço ao outro. Por conseguinte, justamente pela escuta da natureza e dos outros, aprendemos também a escutar Deus. Eu diria que é experiência normal perceber mais profundamente dentro de nós a voz de Deus no momento de solidão e de recolhimento, como pode ser a oração no fim do dia. Esta é a escuta mais profunda e mais radical. Para aprender a vivê-la é necessário, porém, percorrer um caminho, superando o medo de adentrar aquele espaço — que, à primeira vista, pode parecer vazio e despido — livre das mil presenças e dos mil barulhos da nossa vida: o espaço do silêncio e do deserto, no qual desabrocha uma vida nova. O homem de hoje talvez tenha esquecido essa dimensão, até porque não lhe é oferecido um acompanhamento na escuta da voz de Deus, que acontece não tanto na fuga do mundo, mas na vivência das inúmeras situações da vida. A voz de Deus é como uma pérola que deve ser extraída da lama, é como uma plantinha tenra que brota no terreno de nossa alma e que deve ser cultivada com cuidado. Assim, cada dia do cristão deveria ser repleto de tais momentos, de modo que, aos poucos, esta atitude de oração se torne naturalmente, com o nosso esforço e a ajuda da graça de Deus, o respiro de nossa vida.