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I — A “Essência” do Pai
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como, entre outros, afirmou João Paulo I, em seu famoso
discurso nos primeiros dias de seu breve pontificado. O
que significa essa duplicidade intrínseca e essencial?
Quando tratamos da relação de Deus com a masculinidade e a feminilidade, é necessário abordar a questão
com muita clareza, partindo da “reviravolta” que é típica e proposital na revelação judaico-cristã. De fato, na
experiência que o homem faz de Deus e que é expressa
nas diferentes religiões tradicionais, acontece sempre o
seguinte fenômeno: Deus é representado à imagem e semelhança do homem. Assim, em todas as tradições mais
antigas, encontramos um deus, pai no sentido naturalista
do termo, e uma deusa, mãe e esposa.
Na revelação bíblica judaico-cristã, temos uma
mudança radical, pois a figura de Deus não é representada a partir da projeção da experiência humana sobre
a sua fisionomia. Ao contrário, o homem e a mulher são
representados como “imagem e semelhança de Deus”,
com sua originalidade e ao mesmo tempo semelhança.
Significa que o homem e a mulher, em sua masculinidade
e feminilidade, são o reflexo do mistério insondável de
Deus que, por isso mesmo, transcende as categorias de
masculino e feminino, mas é, simultaneamente, a raiz e
o modelo mais antigo de ambos. Daí a possibilidade de
exprimir o amor de Deus pelo homem com os traços da
paternidade — como a experimentamos na natureza humana — e igualmente com os traços da maternidade.
É evidente que o condicionamento histórico-cultural fez com que o traço masculino — pela constituição
tipicamente patriarcal da sociedade antiga — fosse maior
que o feminino e, de alguma forma, o sobrepujasse. Por
isso, poderíamos afirmar que, na visão bíblico-cristã,
Deus não é do sexo masculino nem feminino, mas é a
origem de ambos. Isso é plenamente revelado em Jesus.
Como diz são Paulo: “Não há homem nem mulher; pois