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Serge Latouche então, como uma panacéia tanto para o Sul quanto para o Norte. É mais ou menos a conclusão a que se chegou em Porto Alegre5. Essa aspiração ingênua a um retorno ao desenvolvimento testemunha uma perda de memória e, ao mesmo tempo, uma ausência de análise sobre o significado histórico desse desenvolvimento. A saudade dos “trinta anos gloriosos” da era da regularização keynesianofordista, qual a apoteose do desenvolvimento, leva-nos a esquecer que, em maio de 1968, justamente essa sociedade do “bem-estar” era denunciada como sociedade de consumo e sociedade do espetáculo, dando lugar apenas ao tédio de uma vida sem perspectivas fora do “metrô-batente-cama”6, baseada num trabalho em linha de montagem repetitivo e alienante. Se ainda hoje se exaltam de bom grado os círculos virtuosos desse crescimento, que constituía um “jogo de lucro-lucro-lucro”, esquecem-se de bom grado os dois perdedores desse jogo: o Terceiro Mundo e a natureza. Claro, o Estado ganhava, o patronato ganhava, e os trabalhadores, mantendo a pressão, melhoravam o próprio padrão de vida, mas a natureza era desavergonhadamente saqueada (e ainda não terminamos de pagar a conta…), enquanto o Terceiro Mundo das independências afundava ainda mais no subdesenvolvimento e na tendência a fugir da influência da cultura tradicional (desculturalização). Em todo caso, esse capitalismo regulado da era do desenvolvimento representou uma fase transitória, que levou à mundialização. De fato, se o desenvolvimento foi apenas uma estratégia para a descolonização com outros meios, a nova mundialização, por sua vez, é apenas uma estratégia para o desenvolvimento com outros meios. O Estado esconde-se atrás do mercado. Os Estados-nação, que se haviam tornado mais discretos na passagem do bastão da colonização para o desenvolvimento, deixam o primeiro plano da cena para a ditadura dos mercados (que eles organizaram…), com seu instrumento de gestão, o Fundo Monetário Internacional (fmi), que impõe os projetos estruturais de ajustamento. Todavia, se as “formas” mudam consideravelmente (não só as formas), estamos sempre diante de slogans e ideologias que tendem a legitimar o empreendimento hegemônico do Ocidente, e, especificamente, dos Estados Unidos de hoje. Lembremo-nos da fórmula cínica de Henry Kissinger: “A mundialização é apenas o novo nome da política hegemônica norte-americana”. 5 O autor refere-se ao Fórum Mundial Social, acontecido naquela cidade em 2002. [N.d.E.] 6 Tradução do francês “métro-boulot-dodo” que alude à vida sem muita perspectiva do operário na França. [N.d.E.] 16