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O desenvolvimento ou a degradação da harmonia em valor encontramos num tempo que, para nós, não existe mais. É uma esperança eterna, mas que teve início um dia (não é a eternidade de Deus). Com o lado direito, estamos sentados no tempo. E é necessário fazer o possível para manter as duas partes bem unidas. Estou citando um Padre da Igreja do século xii…! Dirigindo-me, agora, aos modernos, observei que a pequena palavra “eu” adquiriu ao longo do século xx um significado diferente. Em francês, je é um pronome. Se digo “Ivan quer”, é evidente que ainda não sei dizer “eu”, que sou muito criança. Em inglês se diz pronoun, mas não se trata de um verdadeiro substantivo nem de uma classe. Em alemão, ich é um Fürwort, e posso compreendê-lo como algo que substitui uma palavra – für ein Wort – que não existe, enquanto é uma coisa supremamente concreta. Tudo começa com Freud, com a busca do ego, da personalidade, da integração do eu. É esse significado que se está perdendo atualmente. É outra razão pela qual, no mundo contemporâneo, é tão difícil ter uma linha de horizonte como ideal. Isso significa que todo o peso está sobre o glúteo direito. Não sei como dizer isso de outra forma (filosoficamente, é um pouco mais complicado). Quando perguntei a meu amigo Matthias Rieger: “Como explicar de que modo as obviedades se transformaram?”, ele me enviou uma carta da qual transcrevo o seguinte trecho: “Na primeira vez em que li o programa do encontro Desfazer o desenvolvimento, refazer o mundo3, meu coração sobressaltou-se. O tema desse encontro deu-me a sensação de eu ter sido convidado para uma reunião internacional de deuses. Pensei comigo mesmo: essas duas idéias – re-fazer o mundo e des-fazer o desenvolvimento – só podiam ter sido concebidas no Olimpo. Pode ser um Olimpo alternativo, mas é o Olimpo. É global”. Pergunto-me por que o desenvolvimento teve semelhante efeito transformador em milhões e milhões de homens, que em sua maioria ainda trabalham a terra manualmente. Pergunto-me até que ponto eles, hoje, já se modernizaram, se desenvolveram. Outro amigo que gostaria que ouvissem, Samuel Sajay (indiano e professor nos Estados Unidos), me escreveu: “Ivan, você falou do efeito simbólico do desenvolvimento, da escola que classifica inevitavelmente as pessoas e lhes atribui a responsabilidade de pertencer à própria classe de origem; da medicina que cria no mundo moderno as patologias que ela mesma diagnostica…” 3 Colóquio promovido pela Unesco em Paris, em 2002. [N.d.E.] 11