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Caía o luar na serra E o cavalo ali parado: Não era um lobo feroz, Não era um lobo esfaimado. Era uma vez um pastor No abrigo de uma serra, Chamada Serra da Estrela Quase no cabo da terra. Caiu uma estrela ardente Na sua cabeça tão fina: Eram os olhos mais azuis Como a água de uma mina. No Inverno a neve branca O chão da serra cobria E naquela solidão O pastor assim vivia. Brilhava de mansidão O seu olhar sem sossego E à lembrança do pastor Vem a água do Mondego. As ovelhas em seu redor Faziam uma roda mansa: Eram mantas de ternura Numa roda que não cansa. Começa o filho a falar: - Sou filho da Primavera E eu vim anunciar Que ela está na serra à espera. Para as ovelhas guardar - Que os lobos matam rebanhos! O pastor tinha um cão De meigos olhos castanhos. Esta estrela, sobre a testa, Queima meu corpo de mel, Cega meus olhos azuis Numa fogueira cruel. Havia silêncio na serra, Tudo na serra dormia, Quando apareceu um cavalo A correr na noite fria. Adeus pastor, meu amigo, Fica com o teu cão, teu gato, Já pode sair do abrigo, Eu já te dei o recado. O Cavalo e a Estrela Esta história muito antiga Contou-ma foi minha mãe: Quem conta um conto acrescenta um ponto E eu acrescento-o também. Caía o luar na serra Tudo na serra luzia, Quando apareceu o cavalo A correr na serra fria. O pastor tinha uma flauta Onde seu sonhar dormia E tocou-a de madrugada Com cristais de neve fria. Foi acordado o pastor, Ladrou o seu cão fiel, E ali parou o cavalo, Castanho da cor do mel. E o cavalo correu, voou, Ganhou asas a arder: O cavalo cor de mel Era a manhã a nascer. Esta história muito antiga Contou-ma foi minha mãe: Quem conta um conto acrescenta um ponto E eu acrescento-o também. Araújo, Matilde Rosa , Mistérios .