história i saveiros
Barcos que sustentam uma economia
Os saveiros ‘carregaram’ em seu casco o possível e imaginável da Baía de Todos-os-Santos a diversas localidades
às margens do Rio Paraguaçu. Entre o início do século
XVII e meados do século XX, as embarcações foram o
principal meio de locomoção no Recôncavo.
Transportavam de tudo: frutas, farinha, fumo e até
gado. O desembarque era na rampa do Mercado Modelo
e nas feiras do Porto da Barra, de Itapagipe e de Água de
Meninos. Na volta, materiais de construção, eletrodomésticos e, principalmente, querosene.
“Tinha um saveiro chamado ‘Quero Shell’. A Shell
produzia o combustível na época e, por onde o barco
passava, as pessoas gritavam: ‘quero Shell”, conta Pedro
Bocca. Os saveiros integravam a cultura local, utilizados
em procissões, festas de santos e até casamentos. A baía
vivia apinhada. “O saveiro era um elemento da vida
social”, completa.
Com o advento das estradas, a fabricação de carros e,
depois, de caminhões, os saveiros se tornaram desnecessários. A decadência se deu entre as décadas de 1940 e
1950. “Quando não tinha estrada, nem carro, não faltava
trabalho”, confirma Dégo.
O desaparecimento foi inevitável. Hoje, sobrevivem
de fretes de carregamento de areia, pedra e materiais de
construção para áreas menos acessíveis. O número de
rotas diminuiu bastante. Mas, dois dos barcos sobreviventes, um deles o Sombra da Lua, ainda fazem o tradicional percurso entre Maragojipinho e Salvador, onde
descarregam as famosas cerâmicas, também conhecidas
como caxixis.
o 15 de agosto
restaurado
mesmas rotas de
400 anos atrás
90 I Poderes em Revista