PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 39

Miguel, Júlia, Maria Beatriz e Marcelo: música de qualidade pelo bom entrosamento no palco e, agora, pela presença de duas belas vozes femininas: as colegas procuradoras Maria Beatriz de Biagi e Júlia Giovanetti. A dupla tem ensaiado com os rapazes desde novembro, quando a Curva abriu o show da cantora Rita Lee, na festa de final de ano da Associação de Procuradores do Estado de São Paulo, a Apesp. “A banda é supercoesa, me sinto bem à vontade e a impressão é de que toco com eles há tempos”, conta Beatriz, que solta a voz em clássicos dos Beatles e faz backing vocals em canções de Bob Marley a Albert Collins. As principais referências são B.B. King, Buddy Guy, Dick Dale, Ronnie Earl e Eric Clapton. O repertório muda conforme o público. Quando é eclético, como no show daquela quarta-feira chuvosa, inclui Beatles e Rolling Stones, mas sempre com uma ‘pegada’ blues. Apesar das concessões, o grupo faz questão de enaltecer e divulgar o gênero tocado pelos negros americanos, estilo que influenciou mais de uma geração de grandes nomes do pop atual. “Tocamos as músicas de que gostamos, de acordo com os nossos arranjos e interpretações, procurando não nos distanciarmos das raízes”, explica Marcelo, que aprendeu as nuances na guitarra com Miguel Filho. “Estudei piano erudito dos sete aos 15 anos, depois violão e contrabaixo. Demorei muito para compreender a linguagem do blues”, reforça. A explicação sobre essa sonoridade peculiar fica simples quando eles sobem ao palco. “É um som diferente de tudo, não é pasteurizado. Tentamos nos aproximar desse estilo mais selvagem, mais cru”, sintetiza Miguel. Nessa busca, os procuradores-músicos chegam a participar da passagem de som com o técnico da casa. O grupo começou com três colegas, em 1998, em volta de um piano durante um happy hour na casa de Miguel Filho. “Achamos uma linguagem comum fora do ambiente de trabalho”, diz. Um dos fundadores, o procurador Derly Barreto Filho, agora acompanha da plateia a evolução do conjunto. Ele e Roberto Zular, que também integrou a banda, tiveram que abrir mão da música por causa da vida acadêmica. Agora, apresentam-se para estudantes de Direito da PUC e da USP. Para explicar essa conjunção, a princípio tão diversa, Miguel Filho exemplifica como o aprendizado sobre o palco pode ser revertido para o exercício profissional. “O blues te ensina a viver com intensidade, cada nota tem um sentido, uma mensagem, uma alma, uma personalidade, um propósito. Por exemplo, ao escrever uma petição, você pode em poucas palavras dar seu recado”, compara Miguel. A paixão é repassada aos dois filhos adolescentes, que herdaram o gosto pelos palcos e já trilham um caminho no meio musical. Jorge Augusto e Maurício, acompanhados de Felipe, filho de Zular, tocaram na abertura do show da Curva de Rio. E taí outra lição do blues: o compartilhar, como faz o famoso guitarrista americano Buddy Guy ao apresentar, em seus shows, o menino-prodígio Quinn Sullivan. Poderes em Revista I 39