Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 55

Nessa hora me lembro de Rosa não me aceitando, mandando eu embora, brigando comigo. Entendi que esse foi o melhor aprendizado que Rosa poderia me ofertar... moradora de rua sim, psicótica provavelmente, mas alienada não!... Juntei minhas “sacolas” assim como Rosa me ensinou, ordenei e percebi que muitas vezes o que carrego comigo para o outro não passa de entulho. Rosa me fez lutar por esses “entulhos” e me indignar sempre... Não devo sair dessa área de atuação por conta da minha indignação, devo sair se não houver mais essa indignação.

Os dias foram passando e eu com a lembrança me acompanhando, entro na kombi, para mais um dia de acompanhamentos e abordagens, olho pela janela, e vejo entre o vai e vem dos carros, buzinas, poluição, uma mulher negra, em uma cadeira de rodas, tentando se locomover com dificuldade, uma perna amputada praticando mendicância. Qual será o nome dela? Será que nós enquanto Rede queremos realmente saber? Se for mais fácil, podemos denominá-la de Dona Qualquer Maria... A escolha é nossa! Eu escolhi, e por isso agradeço... Obrigada Rosa/Beth Carvalho.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 54