Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 42

8 iMagazine / April, 2013

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 41

Alguns recursos tecnológicos têm grande contribuição para os processos de registro e compartilhamento do conhecimento. Além das projeções de apresentações, de relatos em tempo real e de registro das produções coletivas, a internet é um recurso sem igual. Tenho experimentado, sob influência dos ideais da cultura hacker (Silveira, 2010), abrir na rede mundial de computadores as produções de que participo a partir do entendimento de que o conhecimento deve ser compartilhado de forma integral para que seja apropriado, remixado e aprimorado por qualquer pessoa que queira7.

Impacto sobre as práticas

O impacto desses processos se manifesta em relatos de transformações nas práticas de atenção e também na percepção dos participantes sobre os processos de trabalho em que estão inseridos. Mais conscientes da complexidade daquilo que determina seu trabalho, mostram-se encorajados para encontrar e afirmar elementos de fortalecimento do trabalho, para questionar e até mesmo barrar elementos de desgaste. Ao localizar melhor seu papel na rede – seja na prevenção e promoção de saúde, enquanto trabalhadores da rede de atenção básica, seja na assistência social, como agentes de Centros de Acolhidas, ou mesmo como trabalhadores de CAPS – eles passam a entender sua atuação como parte de respostas que devem ser complexas às necessidades das pessoas atendidas, tirando de si a responsabilidade exclusiva pela cura ou pela inclusão social e passando a desenvolver o trabalho em colaboração, mais integrados.

Apropriados de conceitos e diretrizes, os trabalhadores podem desfazer crenças de outros trabalhadores da rede e da população sobre o consumo de drogas e as respostas ao sofrimento relacionado, diminuindo sua angústia e ansiedade (aspectos que desgastam para o trabalho) e questionando as adoecedoras cobranças por respostas imediatas e simplistas.

Em minha experiência, foi possível, para alguns trabalhadores, reverem suas práticas que estavam pautadas na moral e no medo dos “drogados”, passando, inclusive, a gostarem de atendê-los quando puderam enxergar “além da droga”. A partir do aprendizado sobre a determinação social do processo saúde-doença, passaram a enxergar vias potentes de intervenção e cuidado.