Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 38

8 iMagazine / April, 2013

Oobjeto deste relato é a experiência com processos de ensino-aprendizagem com trabalhadores das redes de atendimento a consumidores de drogas, orientados pelo paradigma da redução de danos (RD). Apresento este relato com o objetivo de trazer elementos para compor uma discussão sobre a indissociabilidade entre técnica e política dos processos de trabalho e apresentar uma reflexão crítica sobre a realidade como elemento transformador das práticas. Pretendo com este texto apresentar elementos da experiência que possam contribuir com a reflexão crítica sobre as propostas de formação1 de trabalhadores para o atendimento a consumidores de drogas.

Para relatar minha experiência, é importante que eu me apresente, localizando a partir de qual trajeto formativo realizo minhas práticas de articulação e docência que se iniciaram em 2008, em minha primeira experiência de trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD).

Na função de terapeuta ocupacional em CAPS AD (por quatro anos - 2008 a 2012 - nas cidades de Campinas e São Paulo), desenvolvi práticas de articulação de redes e reflexão sobre a redução de danos como paradigma orientador do trabalho. Depois do trabalho nos CAPS, pude experimentar, entre 2013 e 2014, a articulação do Fórum Estadual de Redução de Danos, trabalhando na ONG É de Lei 2 , com financiamento da Secretaria de Estado da Saúde – SP, e cujo foco foi mapear práticas, aproximar os trabalhadores, produzir e sistematizar conhecimento sobre a RD no estado de SP. Paralelamente ao trabalho como articuladora, realizei práticas como docente pela Escola Municipal de Saúde de São Paulo, em processo formativo de cerca de 150 trabalhadoras3 da Estratégia Saúde da Família das regiões leste e norte do município, por nove meses (o curso tinha por finalidade formar para a qualificação do atendimento a consumidores de drogas na atenção básica pela perspectiva da RD).

Esse conjunto de experiências me transformaram e, a partir delas, é possível elencar alguns dos elementos que passei a considerar essenciais para o fortalecimento dos processos de trabalho na atenção a consumidores de drogas em São Paulo. Importante considerar que foram processos em que eu fazia parte de grupos de articuladores e docentes, portanto, tudo que trago tem a ver com as trocas e a construção coletiva de conhecimento e práticas. Tenho articulado os encontros que coordeno, fundamentada nas proposições da Redução de Danos Emancipatória (Sores, 2007), a partir do campo de conhecimentos e práticas da saúde coletiva; influenciada por elementos da Educação Emancipatória (Almeida, Trapé & Soares, 2013); e apropriando-me de instrumentos do método de encontros chamado Open Space Technology (Owen, 1993).

Minha formação como terapeuta ocupacional compõe com essas bases por qualificar o olhar sobre as formas com que os participantes apreendem seus processos de trabalho, para além do discurso a partir da experiência concreta. Esse olhar permite desvelar trajetos possíveis de desenvolvimento de potências para transformar suas práticas a partir da reflexão sobre o que fazem e da experimentação de diferentes formas de entender o trabalho.

Apresento a seguir a forma como os encontros formativos de que participo como propositora são organizados. As práticas de articulação de fóruns são trazidas ao lado das práticas de docência por terem ambas se configurado como espaços formativos em minha experiência.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 37